Marcelo Freixo, padrinho-político de muitos votos

O mapa de votação de Marielle Franco publicado nesta sexta-feira pelo site O Antagonista esclarece muito bem o exato perfil político da vereadora eleita pelo Psol, assassinada no Rio de Janeiro. Depois de morta, Marielle tem sido exaltada bastante por seu partido e pela esquerda em geral como representante das favelas cariocas e importante liderança popular, perfil que não confere com os números obtidos pelo O Antagonista.

Eu já havia estranhado ver depois de sua morte, em vários lugares, esta imagem poderosa de liderança popular emergente veiculada em textos e vídeos. Achei um descuido que tivesse passado despercebida da imprensa uma jovem mulher de um pequeno partido político de esquerda, com forte liderança sobre favelas do Rio de Janeiro, com tanto peso político que acabou sendo eleita em quinto lugar, com mais de 40 mil votos. Mas não houve descuido algum. Os números da sua votação mostram que essa figura mítica surgiu depois do cruel assassinato. É uma lamentável invenção da esquerda em ano eleitoral.

Mesmo no lugar onde mora, o Complexo da Maré, Marielle conseguiu apenas 50 votos, o que mostra que seu poder de convencimento político não é tão grande, além de seu prestígio não ser lá essas coisas na favela onde vive desde a infância. Em outras favelas cariocas sua votação foi igualmente muito baixa. Marielle se elegeu a partir de votações altas em bairros com eleitores de maior poder aquisitivo e isso aconteceu porque para sua eleição o Psol usou do mesmo artifício de qualquer outro partido.

A vereadora teve o reforço de votos da base eleitoral de seu padrinho político, o deputado estadual Marcelo Freixo, candidato a prefeito muito bem votado no ano em que ela virou vereadora. Certamente ela teve sua candidatura beneficiada de várias formas durante a campanha, um recurso que pode não ser ilegal, mas ainda assim é um privilégio que depende da cúpula partidária, do mesmo modo que é feito por partidos tradicionais condenados pelo Psol por esta prática.

Como os demais partidos de esquerda, o Psol finge que faz política de forma diferente, mas de modo encoberto usa os mesmos artifícios e imposições para a eleição de seus políticos. O partido tem também seus caciques políticos, sendo Freixo um dos mais poderosos. Independente da divergência que tenho com suas ideias, ele é um político muito capaz e de uma coragem que não é pra qualquer um.

Freixo foi presidente na Assembleia Legislativa carioca de uma CPI das mais arriscadas, que investigou em 2008 as milícias no Rio de Janeiro. Foram presos vários integrantes de grupos criminosos, inclusive policiais. O parlamentar sofreu ameaças de morte e até hoje anda com seguranças. A sua estreita ligação pessoal e política com Marielle pode inclusive levar a pensar que o assassinato teve como objetivo principal atingi-lo. Não vi esta tese em nenhum lugar e evidentemente não conto com outra fonte para fortalecer a suspeita que não seja o que está aqui relatado. Mas é provável que na investigação do crime estejam levando em consideração esta hipótese. Eu faria isso.

José Pires|Brazil Limpeza

Sobre Solda

Luiz Antonio Solda, Itararé (SP), 1952. Cartunista, poeta, publicitário reformado, fundador da Academia Paranaense de Letraset, nefelibata, taquifágico, soníloquo e taxidermista nas horas de folga. Há mais de 50 anos tenta viver em Curitiba. É autor do pleonasmo "Se não for divertido não tem graça". Contato: luizsolda@uol.com.br
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