De surpresa a fala fez-se a bombástica
Proposta de edital duma arte mais estática
A vontade do estado como sempre errática
Acima deus pátria família, abaixo a plástica
De cívica tal língua fez-se entusiástica
Que no vídeo pregava mudança drástica
E nessa paixão pela retórica pleonástica
Declara a arte servil, regrada, monástica
Daqui em diante arte deve fazer ginástica
E manter-se não elástica mas eclesiástica
Se possível fardar-se e perfilar, fantástica!
E pintar-se verdosa e amarelosa, catártica
Finda-se o discurso numa voz sarcástica
Encomende-se ao artista obra escolástica
Goebbelslizada uma cultura nada cáustica
Premie-se logo a obediência encomiástica
Mal sai do ar o falastrão de aura asmática
Perde a função: falta de noção ou de tática?
Em seu lugar cogitada atriz teledramática
Reginar-se-á ela com o Poder, carismática?
Será tudo isso a gota d´água orgiástica
Ou é parte duma enxurrada emblemática?
Estica o braço, heil!, saudação traumática
O lindo pendão resplandece ordem sádica:
Marcha o ganso, resoluto, rumo à suástica.