Poeminha a passo de ganso

De surpresa a fala fez-se a bombástica
Proposta de edital duma arte mais estática
A vontade do estado como sempre errática
Acima deus pátria família, abaixo a plástica
De cívica tal língua fez-se entusiástica
Que no vídeo pregava mudança drástica
E nessa paixão pela retórica pleonástica
Declara a arte servil, regrada, monástica

Daqui em diante arte deve fazer ginástica
E manter-se não elástica mas eclesiástica
Se possível fardar-se e perfilar, fantástica!
E pintar-se verdosa e amarelosa, catártica

Finda-se o discurso numa voz sarcástica
Encomende-se ao artista obra escolástica
Goebbelslizada uma cultura nada cáustica
Premie-se logo a obediência encomiástica

Mal sai do ar o falastrão de aura asmática
Perde a função: falta de noção ou de tática?
Em seu lugar cogitada atriz teledramática
Reginar-se-á ela com o Poder, carismática?

Será tudo isso a gota d´água orgiástica
Ou é parte duma enxurrada emblemática?
Estica o braço, heil!, saudação traumática
O lindo pendão resplandece ordem sádica:

Marcha o ganso, resoluto, rumo à suástica.

Sobre Solda

Luiz Antonio Solda, Itararé (SP), 1952. Cartunista, poeta, publicitário reformado, fundador da Academia Paranaense de Letraset, nefelibata, taquifágico, soníloquo e taxidermista nas horas de folga. Há mais de 50 anos tenta viver em Curitiba. É autor do pleonasmo "Se não for divertido não tem graça". Contato: luizsolda@uol.com.br
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