Mulher, jovem e festeira destoa no cenário masculino e sisudo da política
Só em 1960 uma mulher veio a ser eleita democraticamente chefe de governo. Foi no Sri Lanka. Hoje, cerca de 20 países são governados por uma pessoa do sexo feminino. É pouco. A política ainda é feita por homens e o mundo parece longe de se acostumar com a presença de mulheres em posições de poder, muito menos com aquelas que não se enquadram no estereótipo terninho, cabelo comportado, vida discreta.
Se não tivesse lido que era a primeira-ministra da Finlândia a moça dançando muito animada, o vídeo que circulou na internet nem teria me chamado a atenção. Há dúzias de clipes iguais no Instagram: gente jovem, um tanto calibrada, rebolando até o chão, em geral em frente a uma câmera de celular. É isso o que a maioria faz aos finais de semana.
Sanna Marin virou notícia porque imagens suas numa balada vazaram para o mundo, que ficou em choque ao saber que a primeira-ministra faz o que milhões de mulheres da idade dela também fazem. Aos 36 anos, jovem, sexy, feliz, de regatinha e calça justa, se divertia com amigos. Apesar do apoio que recebeu, a repercussão negativa foi grande.
A imprensa sensacionalista trouxe riqueza de detalhes. O número de homens com quem dançou, quem abraçou, no colo de quem se sentou. Há críticas de que a companhia de artistas e de influencers não era adequada, que seu marido não estava presente, que não é postura de governante e que a Finlândia está num momento de tensão com a Rússia. Sanna, coitada, vestiu terninho e recorreu ao exame toxicológico para provar que não tem nada a ver com o coro que, dizem, gritava na festa, “gangue da farinha”.
Sabemos qual é o problema. Mulher, jovem e, caramba, baladeira destoa no cenário masculino e sisudo da política. Felizmente, estes ambientes passam por uma mudança que será drástica, no comportamento, no visual e nas prioridades. O mundo terá que se apressar . Temos pressa.