Que magia havia nos caminhos da mata, que nos fascinava a ir mais adiante, e mais adiante, e sabíamos que mais adiante não havia nada mais que a floresta, e que a magia era esse estar indo. Que fascínio nos levava a ir, às vezes com companheiros, mas muitas vezes só, nessa caminhada respeitosa, e parávamos diante de uma pedra e uma voz dentro de nós dizia: é aqui. E essa pedra ou árvore ou nada era o altar de nossa religião e era ali que, comovidos, conversávamos com o deus que em nós habitava. Que delícia quando voltávamos para casa, cumprida a missão de ir e encontrado deus e dele ter recebido a absolvição, uma coisa assim, e nos sentíamos redimidos e felizes.
Deus estava em todos os caminhos porque estava conosco, nascido do amor que tínhamos, nascido de todos os sentimentos bons. Caminhava conosco, quem sabe se abraçado conosco, e nós agradecíamos com palavras silenciosas a felicidade de nos ter sido dada a oportunidade de sermos bons, de cultivarmos o amor, de não deixar que sentimentos maus nos envenenassem.
É possível que houvesse dias que deus se afastava um pouco de nós. Quem sabe resolveu dar um giro por aí! Mas sentíamos imediatamente quando ele voltava e entrava em nós, porque só podia ser deus aquela felicidade que nos pegava de surpresa, quando estávamos distraídos. Era então que abraçávamos os companheiros e nos esforçávamos para ser ainda melhores do que éramos.
Caminhando com deus pelos caminhos do Marumbi, subíamos rampas, rochas, parávamos diante de um altar e dizíamos: é aqui. E onde parássemos era altar, que a montanha era nosso templo.
Inventei esse deus porque não posso acreditar que tudo aquilo éramos só nós sendo felizes e distribuindo felicidade. Como podíamos nós criar do nada esse tesouro que era a montanha, seus caminhos, os companheiros, tudo aquilo que foi o tempo de nós juntos?