HOJE versamos os sapatos masculinos. Relevem-se os bicudos, pontudos, que as mulheres já batizaram, quanto aos seus, de armas para encurralar e matar baratas. Embora contraditória, a imagem é útil. Apesar dos bicudos, houve pelo menos o resgate dos modelos Oxford, os sapatos de amarrar de nossos avós. Bicos arredondados, bem construídos, ofertando cores que – como dizem os procuradores da Lava Jato – desbordam dos invariáveis e conservadores preto ou marrom.
A MODA das calças curtas, canelas à mostra, incorporou o determinismo dos sapatos sem meias. Respeitados os que têm alergia, o sapato sem meias evoca mau cheiro e, no tempo de nossos avós, falta de educação, passível de punição e cárcere privado. O Insulto arrisca dizer que sapato sem meia é frescura. Sem meias só os Maria Mole, cor branca, dos malandros de antanho. Imagino o que diria o cronista Célio Heitor Guimarães de um Vulcabras, um Clark, um Scatamacchia sem meias.
ONTEM topamos com um modernoso no consultório do doutor César Kubiak – o conservador que trata as mulheres de minha senhôra, escreve com caneta Parker e bebe vinho com salame copa de São João do Triunfo. Nosso personagem vestia-se pelo figurino da falta de ar, da dor nos bagos, calçado num Diplomata. Sem meias, canelas de zagueiro, um horror. Sem meias? Bem, na borda dos sapatos entreviam-se as meias que as mulheres usam para disfarçar que estão sem meias. Aí, já é demais.