Melhor seria impossível

Michelle Pucci e Marco Novack em foto de
ensaio de Chico Nogueira.

Texto serve na medida ao universo cênico do diretor Macksen Luiz. O grupo curitibano Vigor Mortis se mantém fiel a uma estética cênica que mistura histórias em quadrinhos, terror trash e cinema, muito cinema. O teatral se insinua nessas sugestões da cultura pop como valor narrativo que o diretor Paulo Biscaia Filho tem ampliado ao longo de mais de uma década. Nesse percurso, o grupo vem usando técnicas de projeção e recursos tecnológicos, investindo numa dramaturgia cênica maissofisticada, aproximando diversas linguagens.

Hitchcock Blonde consolida parte desse amadurecimento do Vigor Mortis. O texto de Terry Johnson reflete dramaturgia mais consistente, conservando as características genuínas do grupo, como se tivesse sido escrito por encomenda. Em dois planos detempo, o cinema de Alfred Hitchcock é explorado pela descoberta de latas de filme por professor e aluna, que contêm misteriosa preciosidade, e por circunstâncias nadaortodoxas em torno das filmagens de Psicose. A loura, personagem emblemático docineasta, está no centro da ação, adquirindo as feições de fetiche, que vai sendodesvendado nos fotogramas do filme misterioso e nas atribulações das relações hitchcokianas com as suas blondes.

O texto serve na medida ao universo cênico de Biscaia. Com cenário, também em dois planos, projeções bem ajustadas e interpretações identificadas com os diálogos de fina ironia, a montagem ganharia em agilidade com alguns cortes. Ainda que não haja cenas mortas, algumas decrescem de ritmo, em contraponto a outras, como a do jantar da atriz com Hitchcock, bastantes ágeis e vigorosas. No limiar da ironia, os atores têm participação decisiva na projeção do mundo retratado. Edson Bueno e Rafaella Marques fazem contracena em tom exato.

Chico Nogueira é um Hitchcock que vai além da composição física. Michelle Pucci incorpora a loura com os sinais atribuídos ao estereótipo. A atriz vive a personagem com tom levemente crítico, tirando partido dos clichês que o texto tão bem explora em relação à imagem. Marco Novack compõe a figura do marido machista, com figura que reproduz a de Marlon Brando em Um bonde chamado desejo. Só essa imagem define o gênero e a extensão do humor com os quais o Vigor Mortis lida há 10 anos.

Macksen Luiz [29/03/2008] JBOnline

Sobre Solda

Luiz Antonio Solda, Itararé (SP), 1952. Cartunista, poeta, publicitário reformado, fundador da Academia Paranaense de Letraset, nefelibata, taquifágico, soníloquo e taxidermista nas horas de folga. Há mais de 50 anos tenta viver em Curitiba. É autor do pleonasmo "Se não for divertido não tem graça". Contato: luizsolda@uol.com.br
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