BRASÍLIA – A delação de Delcídio do Amaral fez um novo e inesperado alvo no governo. O senador acusou o ministro da Educação, Aloizio Mercadante, de tentar obstruir as investigações da Lava Jato.
A rigor, foi o ministro quem se complicou sozinho. Escudeiro da presidente Dilma Rousseff, ele procurou um assessor do senador para tentar convencê-lo a não denunciar outros petistas. Sem que ele soubesse, a conversa foi gravada.
“Acho que ele devia esperar e não fazer nenhum movimento precipitado. Ele já fez um movimento errado, [deveria] deixar baixar a poeira”, disse Mercadante sobre Delcídio. “Senão vai sobrar uma responsabilidade para ele monumental, entendeu?”.
O ministro não fez uma oferta direta de dinheiro, mas indicou que poderia “ajudar” Delcídio caso ele não falasse. “Eu só tô aqui pra ajudar”, disse. “Veja no que eu posso ajudar”, insistiu. Não é preciso saber diferenciar Hegel de Engels para entender aonde o ministro queria chegar.
A trapalhada de Mercadante não parou aí. Ele prometeu “construir com o Supremo uma saída” para Delcídio. Disse que procuraria o presidente da corte, Ricardo Lewandowski. O senador esperava um habeas corpus para sair da cadeia e passar o Natal em casa, o que não ocorreu.
Depois da divulgação da fita, o ministro convocou uma entrevista para se explicar. Ele negou ter oferecido dinheiro ao senador, mas não convenceu ao dizer que sua única intenção era se “solidarizar” com Delcídio.
“Não vejo como uma pessoa possa ficar abandonada”, murmurou. “Espero que este país valorize a solidariedade, o companheirismo, o gesto de generosidade e de caridade num momento de tragédia pessoal.”
Em outro trecho da conversa gravada, o caridoso Mercadante jurou fidelidade a Dilma. “Se ela tiver que descer a rampa do Planalto sozinha, eu descerei ao lado dela”, disse. Se a ideia é manter a presidente no palácio, talvez seja melhor que o ministro desça a rampa antes dela.
Bernardo Mello Franco – Folha de São Paulo