A atriz Meryl Streep discursa no Globo de Ouro. © Reuters
Em uma cerimônia sem discursos marcantes e politicamente omissa, coube à homenageada da noite, Meryl Streep, dar algum valor histórico à edição de 2017 do Globo de Ouro, na noite de domingo (8), em Los Angeles.
“Mas quem somos nós? O que é Hollywood? Eu fui criada nas escolas públicas de Nova Jersey”, discursou a atriz, citando as diferentes origens e nacionalidades de seus colegas do showbiz.
Foi uma crítica elegante e comovente à xenofobia, crescente nos Estados Unidos que serão governados por Donald Trump, que prometeu deportar três milhões de imigrantes e construir um muro separando o país do México. “Se mandarmos todos os estrangeiros embora, não vamos ter nada o que assistir a não ser futebol e artes marciais. E isso não é o que a arte deve ser”, ela prosseguiu.
Streep ainda criticou as atitudes do futuro presidente, como quando ridicularizou um jornalista deficiente em um comício.”Esse exemplo dado por uma pessoa tão poderosa dá permissão a outras pessoas para desrespeitar. A violência incita a violência. O desrespeito incita o desrespeito. Se alguém usa sua posição para fazer bullying, todos nós perdemos.”
Para uma plateia já chorosa, a atriz defendeu a imprensa na era da “pós-verdade”, em que a difusão de notícias falsas pelas redes sociais ganha relevo.
“Precisamos que a imprensa mostre todos esses atos [de Trump]. Peço que a nossa comunidade ajude a proteger os jornalistas, porque precisamos deles mais do que nunca”, continuou Streep, que terminou o discurso lembrando a amiga Carrie Fisher: “Como a minha amiga, a querida princessa Leia, que nos deixou, me disse uma vez: pegue seu coração partido e o transforme em arte”.
Fora o discurso de Meryl, pouco, ou nada, será lembrado do Globo de Ouro. Apresentador da vez, Jimmy Fallon desapareceu.
Em suas poucas interações, o comediante criticou a eleição de Donald Trump em meia dúzia de piadas no monólogo de abertura, ao mesmo tempo em que elogiou o júri do prêmio: “Este é o Globo de Ouro. Um dos poucos momentos em que a América ainda honra o voto popular”.
O oposto do ácido Ricky Gervais, que em 2016 entornou copos de chope e se dirigiu aos poderosos de Hollywood, ali na festa, como “um bando de viciados em remédios e depravados sexuais”.
Com uma exceção: Tracee Ellis Ross, melhor atriz em série de comédia por “Black-ish”, dedicou a estatueta a “todas as mulheres de cor e às pessoas coloridas, cujas ideias nem sempre são consideradas válidas e importantes”.
E Donald Glover, criador do seriado “Atlanta” (FX), também lembrou do “povo que sobrevive” na cidade de Atlanta, palco de protestos raciais. Folha de São Paulo