Vindos de todo Arquipélago, Lídia é o cenário de amor onde se acasalam, nos fulgurantes maios gregos, pégasos com pelagem das mais diversas cores, e asas da mais diversa envergadura. Mal raie o sol a indicar que é maio no azul do tempestuoso Oceano, os primeiros pégasos pousam nas estreitas praias. Afundam então na areia os cascos, manchados à luz do amanhecer pelas tintas de um ouro-velho de ferruginosa beleza. As asas, essas nem falem, agitam-se alvas mas tão alvas que chegam a refletir como num espelho o azul do Egeu profundo.
Bardos e nautas, górgonas e sereias em vão tentaram chegar a Lídia e foram invariavelmente afugentados, seja pelo violento mar que ali se escrespa e naufraga mesmo as galés mais portentosas, seja pelo pronto vôo com que os pégasos se arremessam, cascos e dentes, asas e crinas tensas, a escorraçar, à proximidade das praias, os eventuais invasores.
Nenhum estranho, nem mesmo os pássaros do velho Arquipélago ousaram se aproximar de Lídia. Ou ali deitar seus ovos. Permanentemente vigiada, desde o princípio do mundo, por gerações e gerações de pégasos, Lídia é e sempre foi a ilha dos cavalos alados. De mais ninguém. E é nela, pois, que crescem, amamentados por soberbas éguas-de-asas, nela, em Lídia, os potros selvagens que trotam, e nela ensaiam, empurrados com o focinho pelos pégasos mais velhos, os primeiros e oscilantes vôos. Obsedante exercício de quedas e imprevistas ascenções.
Então é que acontece: às centenas os pégasos novos descrevem um círculo sobre Lídia, branca e verde em meio ao incalculável azul, e relincham, e voam, enfim voam!, a variegada pelagem, num estrepitar de asas que chega a silenciar o rumor do mar furioso.
Mas são tantos, por vezes, os pégasos no céu de Lídia, os que chegam e os que vão, os que amam e os que se assustam em escuro assombro, que o sol chega a faltar quando demora a tarde extravagante de Lídia e de suas praias brancas.