Para aí, pentelha
Pra eu poder te desenhar,
Eu sou a tua pinça, mina,
Cheguei pra te depilar.
Te penteio com o meu pente, nega,
Te pinto com minha broxa, grenha,
Despenteio atua tocha, cheia,
Faço o teu pelo desenrolar.
Pelo sim e pelo não,
Não me faz embaraçar,
Que eu te descabelo toda, mola,
Pena e pluma a deslizar.
Me revolto e revolvo,
Minha garofina fina,
Faço de você, boneca,
Cabeluda colombina.
Mexe-mexe as madeixas,
Mata densa emaranhada,
Mete isso na cabeça,
Mecha luz enraizada.
O meu pente banguela,
Todos os dentes perdeu,
A tua crina, megera,
Minha palma amoleceu.
Fica paradinha aí,
Que eu quero só te espiar,
Faz de mim o teu reflexo,
Tua imagem a me mirar.
Barbara Gancia, 48, é colunista da Folha de São Paulo e da Bandnews FM e apresentadora do Bandsports. Ela se depila com uma receita caseira de açúcar queimado.
Bem, Orlando pediu-me segredo enquanto preparava este livro. Então, secretamente, lá vai: eu tenho um blog – grande novidade, quem ainda nao tem um? – com uma seção chamada Mata Atlântica, onde posto fotos de mulheres com os pentelhos inteirinhos, isto é, os pelos pubianos sem depilar. Mata Atlântica é oxigênio! E não me chamem de saudosista! Um dia, Orlando mandou-me um desenho sobre o assunto, relacionando os pelos de baixo com os de cima, ou seja, o penteado com os pentelhinhos. E diariamente mandava aquelas maravilhas que só ele, ilustrador de mão cheia, sabe fazer. E fomos publicando. E os internautas se deliciando com as gurias.
Uma manhã ele mandou-me um e-mail com os desenhos, chamando-os de Moças Finas. Taí: adotei na hora o nome, que não substituiu a Mata Atlântica, mas acrescentou um espaço dedicado só ao Orlando, El Pedroso. As Moças Finas do meu blog são do coração e da prancheta do Orla. Orlando é meu amigo desde a década de 80, por tabela, pois ilustrava a coluna que Paulo Leminski — putz, estou destinado a falar sobre o Polaco pelo resto da minha vida! — meu companheiro de trabalho e de mesa de bar, publicava no caderno Ilustrada, da Folha de São Paulo. Depois o conheci pessoalmente em Teresina, no Salão de Humor do Piauí, ambos suados, quase desidratando e Orlando com sua maquininha digital que só fotografa desenhistas.
Temos uma mania: trocamos e-mails monossilábicos e também conversamos assim. E nos entendemos perfeitamente. E, parece pacto, só nos encontramos em Salões de Humor. Mas quando eu for a São Paulo, vou visitar o seu estúdio mágico, de onde saem as maravilhas que voces vêem impressas em revistas e jornais do Brasil inteiro. Creio que ele é capaz até de, ao me atender, ser gentil e me convidar pra entrar. E quando ele vier a Curitiba, repetirei o gesto. Mas não contem isso que eu escrevi pra ninguém: continua em segredo a pedido do Orlando, El Pedroso, até que este livro seja publicado.
Solda — o monge do Bacacheri (bairro curitibano), setembro, 2006