Mulheres que pagam por sexo

Por que algumas mulheres contratam profissionais do sexo para realizar seus desejos e fantasias?

Será que as mulheres também pagam por sexo?

Só encontrei uma única mulher que falou abertamente que pagava por encontros com “garotos de programa”, em mais de 30 anos de pesquisas com 5.000 homens e mulheres de 18 a 98 anos. Em um grupo de discussão que fiz com dez mulheres de mais de 50 anos, uma baiana de 58 anos contou que se divorciou de um empresário, de 65 anos, quando descobriu que a amante do marido estava grávida. O empresário logo se casou com a amante, de 23 anos, com quem teve duas filhas.

“Depois de 35 anos de uma prisão confortável, decidi me libertar da tornozeleira que é o julgamento e a opinião dos outros. Ficamos juntos esse tempo todo por causa dos filhos e porque ele não queria dividir o nosso patrimônio. Hoje, me arrependo profundamente de não ter me separado antes”.

As outras mulheres do grupo sentiram inveja da baiana, não só pela coragem de falar sobre um tema tabu, mas, principalmente, por ela não ter vergonha e culpa de realizar seus desejos e fantasias sexuais. Ela contou que só descobriu o verdadeiro prazer após o divórcio.

“Eu não quero mais casar, prefiro me divertir sem compromisso. Por que as mulheres não podem querer só sexo? Os homens sempre pagaram pelo sexo, com prostitutas, garotas de programa ou sustentando amantes jovens. Nós mulheres não tínhamos, e ainda não temos, a mesma liberdade. Ainda hoje é muito mais difícil para uma mulher realizar os próprios desejos e fantasias”.

Na minha pesquisa, inúmeros homens contaram que tiveram a primeira relação sexual com prostitutas, garotas de programa ou com “a garota da rua que dava para todo mundo”. Nenhuma mulher afirmou que perdeu a virgindade com um “garoto de programa” ou com “o garoto que pegava qualquer uma”. A maioria das mulheres mais velhas que pesquisei se casou virgem ou com o primeiro namorado. Muitas nunca tiveram um orgasmo e aprenderam a fingir um prazer que nunca experimentaram de verdade.

Lembrei da minha pesquisa quando assisti ao filme “Boa sorte, Leo Grande”. No filme, Nancy, interpretada pela atriz Emma Thompson, busca um “profissional do sexo”, Leo Grande, interpretado pelo ator Daryl McCormack. Apesar de alguns minutos de cenas de sexo e de 20 segundos de nudez frontal da atriz terem provocado um rebuliço nas redes sociais, o filme todo, com exceção de uma única cena, é uma conversa tensa, intensa e reveladora entre Nancy e Leo em um quarto de hotel. Viúva há dois anos, Nancy fala compulsivamente, Leo escuta atentamente procurando compreender as necessidades e desejos de Nancy. Será que Nancy, apesar de não ser rica, pagou tão caro apenas para ser escutada por um belo jovem?

Nos quatro encontros que teve com Leo, a professora aposentada, uma mulher frustrada, reprimida, insegura e extremamente insatisfeita com a vida que teve com o marido durante 31 anos, com o filho entediante e com a filha que só liga para falar de seus problemas, vai se transformando em uma mulher mais livre, autoconfiante e sensual.

Emma Thompson disse que, até hoje, as mulheres são frustradas e reprimidas sexualmente.

“Nancy nunca teve um orgasmo, e não acho isso incomum, mesmo na vida moderna. Então ela decide, de repente, se libertar… Foi muito desafiador ficar nua, aos 62 anos. Especialmente em um mundo em que as exigências feitas às mulheres são terríveis. As jovens atrizes com quem falo sugerem, inclusive, que existe uma espécie de tirania para fazer as mulheres perderem a autoconfiança”.

O resto é spoiler e não posso contar, mas posso dizer que o filme não é só sobre a nudez de uma mulher que, segundo ela mesma, sempre teve vergonha do próprio corpo por ser “barriguda, ter os seios caídos até o umbigo” ou sobre uma esposa que finge orgasmo para acabar logo com o desprazer do sexo com um homem que ignora seus desejos.

O filme é sobre as prisões, medos, vergonhas e frustrações de uma mulher que, ao se sentir livre pela primeira vez na vida, busca descobrir o próprio corpo, desejo e prazer, um prazer que ela nunca havia experimentado antes de conhecer Leo Grande.

Sobre Solda

Luiz Antonio Solda, Itararé (SP), 1952. Cartunista, poeta, publicitário reformado, fundador da Academia Paranaense de Letraset, nefelibata, taquifágico, soníloquo e taxidermista nas horas de folga. Há mais de 50 anos tenta viver em Curitiba. É autor do pleonasmo "Se não for divertido não tem graça". Contato: luizsolda@uol.com.br
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