Mulheres são criadas para serem rivais?

As amigas são o alicerce da vida e o porto seguro na velhice

Nesta semana, a antropóloga Mirian Goldenberg quis me entrevistar para um novo trabalho e eu topei, não porque ache que tenho algo a dizer, mas porque é também minha amiga e conversar com ela durante duas horas sobre assuntos dos quais ela entende melhor do que ninguém é um presente.

Lá pelo final das duas horas de papo, Mirian me fez o seguinte questionamento: Há uma coisa que eu observo que você dá muito valor, mais do que o amor, o casamento, o trabalho. Está em todas as suas postagens. Você valoriza, dá espaço, celebra muito. Eu diria que é uma marca registrada sua. O que é?

“A vida?”, perguntei. Ela disse que não. Pensei, em silêncio, é a bebida, estou sempre com um copo na mão, nas festas, nos restaurantes, na praia. Senti vergonha, talvez tenha que rever, não a relação que tenho com o álcool, que está sob controle, mas a imagem de alcoólatra que estou passando para o mundo.

“As amizades com outras mulheres”, ela disse, interrompendo minha divagação, me salvando de mais alguns anos de terapia, se apontasse qualquer coisa que despertasse em mim a síndrome da estagiária, que me consome toda vez que estou diante de uma tela em branco.

Sim, carrego comigo amizades com outras mulheres tão longas que se confundem com minha própria história. Elas estão lá em todas as melhores e piores lembranças. Agora, ao pensar nelas, as vejo sorrindo, gargalhando, me levando pelas mãos, me recebendo num abraço, me acolhendo com palavras. Há outras com quem completei bodas mais recentes, mas não menos sólidas.

Eu tenho fascínio pelas mulheres, por aquelas que são parecidas e por outras tão diferentes, exatamente por serem diferentes. Porque me completam, porque me mostram o mundo com um olhar que não é meu, sentem dores que não são minhas. Jamais pediria para vir outra coisa que não fosse mulher, se algo como reencarnação de fato exista. Estou presente, estendo a mão, pego um avião, dirijo por horas, não porque sou boazinha, porque preciso delas para me alimentar de vida, de amor, de juízo, de loucura.

Sobre Solda

Luiz Antonio Solda, Itararé (SP), 1952. Cartunista, poeta, publicitário reformado, fundador da Academia Paranaense de Letraset, nefelibata, taquifágico, soníloquo e taxidermista nas horas de folga. Há mais de 50 anos tenta viver em Curitiba. É autor do pleonasmo "Se não for divertido não tem graça". Contato: luizsolda@uol.com.br
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