Leio na coluna de Mônica Bergamo (25/6) entrevista em que a cantora Pitty lamenta que, hoje, “as pessoas têm dificuldade de ouvir um disco inteiro”. E acrescenta: “Ou até mesmo uma música. As coisas acontecem em 30 segundos.”
Também lamento. Poucos objetos foram tão abandonados depois de tantos serviços amorosamente prestados, como o disco. Segundo sei, a maioria hoje só compra música numa mídia invisível e incorpórea chamada streaming, à base de uma música de cada vez. Voltamos ao tempo dos singles em 78 r.p.m., o formato com que os discos foram lançados em 1902.
Eles eram pretos, de cera, e vinham num envelope individual, contendo música só de um lado. Mas, quando se descobriu que se podia gravar música nos dois lados, o disco se multiplicou. As gravadoras inventaram os álbuns de quatro envelopes, contendo quatro discos —oito músicas— capazes de conter, digamos, a trilha sonora de um musical. Em 1948, esse álbum foi comprimido num único disco de vinil girando em 33 r.p.m. —o famoso LP—, contendo as mesmas oito músicas. Como comportava tanta música quanto aqueles álbuns, o LP também foi chamado de “álbum”.
As gravadoras ampliaram os LPs para doze músicas, lançaram LPs duplos com 24 músicas, e, não contentes, caixas com três ou mais LPs, com quantas músicas quisessem. Até que, em 1984, surgiu o CD, que comportava a música de dois ou mais LPs num único disco. E logo vieram os CDs duplos, triplos, quádruplos, as caixas de CDs e as caixas contendo caixas e caixas de CDs. A música, de todos os gêneros, tomou o mundo. Nunca ouvimos tanta música.
Mas, há uns 10 anos, as gravadoras acharam que isso estava errado. Era música demais, e para que tanta música? Então acabaram com os CDs, as lojas e tudo, e voltaram a vender singles, como em 1902, com uma música de cada vez. Só que, agora, em forma de ectoplasma e, dizem, durando 30 segundos.