Imagens de Marielle Franco tomaram as ruas do Brasil
No dia 15 último, quem andou pelas ruas do Rio viu-se cercado de imagens de Marielle Franco. Seu rosto estava em cartazes, faixas, camisetas, buttons, num boneco gigante e nas vozes de multidões na Candelária, na Cinelândia e no local onde ela foi morta há um ano, no Estácio, com seu motorista Anderson Gomes. Cenas parecidas aconteceram em São Paulo, Belo Horizonte, Lisboa, Buenos Aires. Rádios passaram o dia cobrindo as manifestações, amplificando as vozes de políticos, advogados, religiosos, estudantes e ativistas, todos empenhados numa nova pergunta: “Quem mandou matar Marielle?”.
Com a prisão de Ronnie Lessa e de seu esbirro, Élcio Queiroz, e a reconstrução do meticuloso planejamento para o crime, fica desautorizada de vez a versão do crime “de ódio” contra uma mulher negra e homossexual —que eles mal conheciam e de quem nunca ouviram um discurso como vereadora. Fica evidente que houve um mandante, para quem a eliminação de Marielle seria um aviso, um sinal de seu poder. É contra este que se dirigem agora as investigações.
Esse mandante continua solto. Eu me pergunto o que estará achando da onipresença de Marielle e do que ela passou a representar na vida do país. Ele não esperava por tamanha avalanche. Por causa desta, nos últimos meses, já foi obrigado a mover peões e torres em tabuleiros oficiais para amarrar a busca de indícios que levariam a ele. Significa que, nesses canais, conhece-se sua identidade.
Agora, a prisão de Lessa e Queiroz precipitou tudo. Seu nome está na boca dos homens que ele contratou, instruiu e pagou para matar por ele. E se, para um deles ou ambos, não houver compromissos de honra? Até há pouco, eu imaginava este homem seguro em seu anonimato, testando seu sangue frio e até se misturando nas ruas com os manifestantes por Marielle. Mas não mais. Ele deve estar assustado. E pode ser que já nem esteja no Brasil.