“On the Road”, de Walter Salles, estreia em Cannes. A Bíblia da Geração do Beat, “On the Road” estreou no Festival de Cannes, demorando mais de cinco décadas para a história frenética da libertação, masculinidade e América pós-guerra levar sua jornada do livro para a tela grande. Furiosamente escrito numa máquina de escrever durante uma farra criativa de três semanas em 1951, “On the Road”, de Jack Kerouac, é o retrato da cultura do “Beat” e sua busca espiritual para se expressar.
A versão cinematográfica do diretor brasileiro Walter Salles (“Diários de Motocicleta”) se esforça para capturar a energia e o fluxo de consciência guiado por drogas do livro original.
Salles é ajudado pelo ator britânico Sam Riley no papel do protagonista Sal Paradise, uma versão do próprio Kerouac, e pelo ator norte-americano Garrett Hedlund como Dean Moriarty, que representa o verdadeiro Neal Cassidy, um símbolo da virilidade americana e garoto-propaganda sobre como viver o momento.
“As únicas pessoas que me interessam são as loucas”, escreve Paradise, e Moriarty se encaixa na descrição. O golpista encantador e aventureiro se torna alter ego de Paradise, e sua amizade intimamente próxima é retratada através de uma série de viagens pela estrada.
“É sobre a perda da inocência, é sobre a busca daquela última fronteira que eles nunca vão encontrar”, disse Salles a jornalistas em Cannes. “Trata-se também de descobrir que este é o fim da estrada e o fim do sonho americano.”
Kristen Stewart de “Crepúsculo” interpreta a jovem esposa de Moriarty Marylou, Kirsten Dunst interpreta a segunda esposa Camille e Viggo Mortensen aparece como Old Bull Lee, que é baseado em William Burroughs.
Salles disse que ele e a equipe tiveram “um enorme respeito por Kerouac”, que ajudou a conduzir o processo a partir do momento em que Francis Ford Coppola comprou os direitos cinematográficos do livro em 1979.
A idéia de transformar “On the Road” em um filme foi se perdendo “até que Walter levantou a mão e disse eu acho que eu posso fazer este filme”, contou o filho de Coppola, Roman, que é coprodutor. “Demorou 30 anos, mas combinou naturalmente com Walter.”
As primeiras resenhas foram mistas. Roger Friedman, da Forbes, escreveu que o roteirista Jose Rivera conseguiu capturar “a viagem, a poesia e o olhar”.
“É a vida interior dos personagens que sofrem. Salles filmou o livro fielmente. Ao fazê-lo, é como se nós estivéssemos observando ”On the Road” ao invés de experimentar a aventura de Sal. Isso vai frustrar os críticos e estudiosos de Kerouac.”
Filme na Estrada
Drogas, sexo e jazz são fundamentais para “On the Road”, à medida que a busca dos personagens por liberdade de corpo e mente os leva para clubes de jazz, casas de drogas, campos de migrantes e depósitos ferroviários.
“Acho que um filme de estrada foi o que me tornou cineasta e eu sou muito leal a isso”, disse Salles à imprensa.
Ele contou que encontrou paralelos entre a busca de Kerouac por inspiração por meio do jazz e do bebop ao escrever seu romance com um estilo de improvisação, e o trabalho de diretor.
“Você sempre tem que estar atento para o que você encontra ao longo do caminho, é uma maneira de criar imagens fantásticas.”
A câmera de Salles capta a vastidão da América – e a promessa de algo novo virando a esquina- desde as luzes de Nova York até as colinas de San Francisco e a longa extensão de estrada plana e céu infinito no meio.