Há algo de podre no reino do feminismo. Na última década, o movimento vem promovendo vitimização, em vez de estimular força e autonomia. São cada vez mais comuns casos de mulheres que expõem abusos nas redes sociais. A onda de denúncias começou com o movimento Me Too, que escancarou práticas nefastas de assédio e agressão sexual na indústria do cinema americano.
Mas tal estratégia, então legítima, perdeu foco e função pelo caminho.
Desentendimentos comuns na vida de qualquer casal ganham status de relacionamento tóxico; paquera vira assédio; a traição do marido é violência emocional; e sexo ruim pode ser até estupro.
Além do problema legal óbvio de se acusar inocentes (muitas já tiveram que responder por isso na Justiça), o estímulo ao denuncismo está fragilizando as mulheres.
Em “The Coddling of the American Mind”, o jornalista Greg Lukianoff e o psicólogo Jonathan Haidt mostram três pressupostos falaciosos do movimento identitário: todas as pessoas são frágeis; a crença exagerada no aspecto emocional (o sentimento acima da razão); e a batalha de um “nós” contra “eles” (na verdade, do bem contra o mal).
O resultado é uma visão de mundo vitimista, paranoica e catastrofista que, em vez de ser criticada, é valorizada. Há uma espécie de masoquismo moral recompensado por curtidas nas redes sociais.
Estamos ensinando jovens mulheres a procurar agressão onde nem sempre há, a se sentirem virtuosas por sofrerem e a acharem que a exposição é uma boa estratégia de combate ao machismo —ademais, acaba-se menosprezando a dor daquelas que de fato foram violentadas.
Não devemos aceitar táticas perniciosas e contrárias a evidências científicas em nome de uma causa.
Como disse Camille Paglia: “Primeiro, sou uma intelectual, e depois feminista”. O compromisso com a busca da verdade é não só um imperativo ético, mas exemplo de força e autonomia —que o feminismo atual tem feito questão de solapar.