Ou defende-se a democracia ou defende-se a invasão dos poderes. Ou defende-se o conceito de direitos humanos ou defende-se a barbárie. Eu confesso que nunca vi compatibilidade entre a democracia e um movimento que acolhe torturadores, que retira direitos de mulheres, que troca o livro pela pistola, que faz apologia ao fascismo e à violência. Mas se vocês ainda precisavam de uma prova extra, o dia 8 de janeiro e seus artífices eclodem como uma oportunidade para que o trem em direção ao autoritarismo não conte com sua presença ou silêncio.
Entre os tantos impactos do terremoto sentido na capital federal no começo do mês, um deles deve ser a constatação de que é urgente a construção de uma direita democrática. Conservadores capazes de respeitar as regras do jogo, de defender o estado de direito e suas instituições. Uma direita humanista, capaz de ver que a desigualdade social, o racismo e a xenofobia precisam ser superados. Uma direita que reconhece e busca soluções para as mudanças climáticas. Uma direita que valorize a cultura, as artes e a ciência. Qualquer sistema democrático precisa de uma direita consolidada. No poder ou na oposição.
Não é nada disso que vemos no movimento ao qual vocês deram seu voto no final do ano passado e pelo qual alguns mantêm simpatia. Trata-se de uma força política que sequestrou termos como a família, liberdade e Deus para justificar o ódio, a violência e a intolerância. O mundo, como vocês devem saber, acompanhou os episódios no Brasil com uma mistura de tristeza e choque. Apenas partidos e políticos herdeiros de ditadores como Franco, Salazar ou Mussolini aplaudiram a tentativa de golpe. Vamos ser claros aqui: a ideologia que hoje alguns ainda apoiam só encontra respaldo entre os descendentes do momento mais tenebroso do Ocidente. Querem mesmo ficar ao lado desses personagens da história?
Tenho visto como, de uma forma desesperada para justificar os ataques golpistas, muitos se aprofundam numa realidade distópica, desenhada por desinformação e manipulações. Optam por abandonar a coerência dos fatos para lutar pela preservação da coerência de sua seita, por mais criminosa que seja. Insisto: não escrevo para pedir que façam o “L”. Precisamos de uma polifonia de vozes numa democracia. George Orwell já dizia que a real divisão que existe não é entre conservadores e revolucionários. Mas entre autoritários e libertários. Não há como defender a democracia e ser apoiador de Bolsonaro. A máscara caiu.
Saudações democráticas.