Passei a achar o Felipe Neto mais sexy que o Chico Buarque
Você não precisa ser petista, lulista ou esquerdista para votar no Lula. Você não precisa ser indigenista, antropólogo ou ideólogo para se indignar com crianças indígenas assassinadas. Você não precisa ser de nenhuma ONG pela paz para entender que armar a sociedade é política de extermínio. Você não precisa ser feminista para ter nojo de homem que chama a filha de fraquejada e diz que uma colega não merecia nem ser estuprada.
Você não precisa deixar de defender a família para notar que, neste governo, milhares delas foram dizimadas pela fome e pela Covid. Você não precisa ser contra os bancos para saber que os banqueiros enriqueceram muito mais quando Lula era presidente. Você não precisa ser comunista para votar no mesmo candidato do Persio Arida.
Você não precisa ter pós-doutorado em sociologia para entender que, se uma mulher trans se apresenta como mulher —e é uma mulher—, você precisa chamá-la de mulher. E você não precisa usar boné, adesivo ou bóton a favor de travestis para ter vergonha de morar no país que mais as mata.
Você não precisa ser mente aberta para reconhecer que em 2022 a gente aprendeu, depois de muita porrada, a flexibilizar o que antes eram convicções. Este foi um ano em que eu ajoelhei e chorei em um culto evangélico com o pastor Henrique Vieira. Este foi o ano em que me tornei uma tchuchuca absoluta do Janones, uma tchuchones. Fora que passei a achar o Felipe Neto mais sexy que o Chico Buarque.
Você não precisa ser romântico para se emocionar com Simone Tebet e Marina Silva dividindo um palanque. A Amazônia e o agronegócio de mãos dadas pelo seu voto. Você não precisa contratar um coach para entender o tamanho da sua importância.
Você não precisa ser petista, lulista ou esquerdista para votar no Lula. Você não precisa ser pediatra ou pedagogo para se preocupar com a saúde mental dos seus filhos. O que será deles se você votar em uma pessoa que só defende os interesses da própria prole?
Você não precisa ser namastê das árvores ou militante das embalagens de iogurte lavadas e secas antes de irem para o lixo para saber que sem natureza não dá nem para jogar videogame. Você não precisa gostar de teatro ou cinema ou livros para compreender que nem o Danilo Gentili sobreviveria ao sucateamento completo da cultura.
Você não precisa ser o maior chupador de vulvas da América Latina para entender que o falocentrismo tem que acabar. E que se a sua mulher não gozar pelo menos três vezes por semana ela poderá te largar. E você terá merecido.
Você não precisa saber nada sobre a disputa elegante e justa entre esquerda e direita para perceber que a vulgaridade repugnante e criminosa pregada pela extrema direita está acabando com o que nos resta de dignidade, liberdade e oxigênio.
Você não precisa ter lido Marx para sofrer com tanta gente passando fome. Você não precisa ser PhD em história para ter ideia do que são tortura e nazismo.
Você não precisa ser contra a privatização e o neoliberalismo para ser a favor da democracia e da liberdade de imprensa.
Você não precisa chorar vendo o filme novo do Darín para saber que numerosas mães perderam seus filhos na ditadura.
Neste domingo, você não precisa se achar um herói patético vestido de pimentão vermelho (deixa que eu faço isso), basta que você não seja um babaca desinformado usando as cores da bandeira. Por fim, você não precisa ser militante dos direitos humanos para ser humano.
Ah, e talvez você não precise desta coluna óbvia e propositalmente escrita em linguagem simples para se informar, mas talvez seu tio do zap precise. Repasse (incluindo a parte da chupada, pois sua tia merece um país melhor)!