Carlos Alberto Pessoa, o Nego Pessoa, não morreu, como avisaram por aí. Ele resolveu entrar num beco, numa travessa dessas de Curitiba que ele conhecia e transformou em livro, mesmo porque andava a cidade (andar não significa amar), e fez o corpo sumir para sempre. Trombamos por aí algumas vezes. Ele vivia da invenção própria. Torrou uma fortuna porque fortunas herdadas são feitas para isso. Sobrevivente, um dia o flagrei na frente de uma geladeira cheia de garrafas e latas de cerveja.
Gritei, de longe: “Te peguei”. Ele se virou lentamente e, na mão, tinha uma latinha de Fanta. Pensei e disse a ele que aquilo só podia ser coisa de maluco. Entrevistei-o no programa “Musga na Cachola”, na rádio do padre Manzotti. Não lembro mais a conversa, mas sim que ele levou música clássica para tocar. Gostava muito do esporte bretão, como ele ajudou deixar na memória. Era Coxa Branca e trabalhou para o Atlético Paranaense. Isso é sonho de qualquer profissional que se preza.
Escreveu livros. Viveu a vida retumbante. Aí, sem avisar, foi, mas vai ficar nesta terra onde não parava muito tempo nos locais onde se metia a trabalhar, porque essas coisas não combinavam com ele. Agora lembro que depois da gravação do programa ele me levou a uma padaria perto do estádio Joaquim Américo. Encheu a bola dos pães de lá. Pegou alguns e eu paguei. Isso porque ele não veio ao mundo para pagar, mas para cobrar – e ai de quem reclamasse. Amém. Zé Beto