Agora em julho, 21 anos, senhores, da criação do tablóide de idéias Nicolau! De 1987 a 1994, o suplemento de cultura, último bastião do jornalismo romântico brasileiro, sacudiu o País pós-ditadura, promovendo, desde Curitiba, um carnaval de idéias dificilmente superado no Brasil.
E nunca é demais reconhecer: sem meu velho amigo René Dotti ou sem o aporte de minha adorável Gilda Poli, ele então secretário da Cultura e ela, à mesma época, diretora da Imprensa Oficial, nada teria acontecido. Por mais talento tivéssemos a pequena equipe que reinventou o jornalismo cultural tupiniquim.
Quando o tema é Nicolau – ao contrário de meus livros -, costumo ficar inteiramente à vontade para falar deste que foi o derradeiro nanico da imprensa brasileira, mesmo porque, é óbvio, nunca o fiz sozinho. Nicolau foi sempre a expressão das equipes que por ele passaram, marcadas todas por garra e engenho incomuns. E, claro, da alta marca democrática dos governos que o patrocinaram.
Causa pasmo, até hoje, leitor, que o tablóide fosse bancado pela iniciativa oficial – Álvaro Dias, primeiro; e a seguir, Requião. Com a entrada de Lerner e do obtuso secretário da des-cultura que lá colocou, o jornal naufragou vergonhosamente. E nós, seus criadores, expulsos até do prédio da rua Ébano Pereira. Uma vergonha a manchar a biografia de qualquer homem público.
O Brasil se indignou, com algumas raras mas igualmente vergonhosas exceções de pseudo-intelectuais agarrados aos testículos do Poder feito uma infâmia. Inútil citar nomes – a História não os perdoará… De cineastas a poetastros de província, sequiosos de mostrar seus versinhos mediocrões.
Se pensaram em prestígio fácil, erraram feio. Nicolau perdeu, do dia para a noite, a credibilidade acumulada em 8 anos de nunca interrompida circulação. E não passa um mês, até hoje!, gentil leitor, que eu não tenha de responder a extensos questionários, daqui e d’além mar, tendo como foco o saudoso tablóide.
Tudo isso aí para dizer, de público, nesses 21 anos da criação do jornal, a minha gratidão principalmente ao René Dotti, velho de guerra. Por muita coisa mas também por haver suportado, com grandeza, a minha dissolução pessoal de então, apostando que este escriba ainda era possível… Penso que não o decepcionei, René… Me orgulho de mim, para soar lispectoriano, de que tenha conseguido honrar sua aposta.
Agora vem aí a Enciclopédia Itaú Cultural. Nela, Nicolau é longuíssimo verbete, onde só se considera o período 1987-1994. Sorry, periferia! Isso além de indicado, por Ítalo Moricone, como um dos três mais importantes jornais culturais brasileiros do século XX, ao lado apenasmente do Pasquim e do Opinião. Sorry, again…
É mole? É mole, mas sobe! Para plagiar o meu amigo (dos Anos Loucos cariocas) José Macaco Simão
22|agosto|2008
Wilson Bueno foi demitido do jornal O Estado do Paraná por e-mail.