No pasarán

NÃO HÁ quem resista ao seu encanto. Culta, inteligente, tolerante como o papa Francisco. Elegante, pela unânime aclamação dos povos (uma voz critica-lhe os sapatos, 72 pares, e contando), foi votada como a mulher da ‘roupa apropriada nos enterros’. O que significa: ali impera o desmazelo.

RICA de nascência, diziam dela os amigos do muquifo do bairro, surpreendia os colegas esquerdistas que escondia durante a ditadura. A família conservadora dizia que ela operava no Partido Proletário Fiorucci ao volante do Impala paterno.

BEM ANTES das tatuagens que igualam as mulheres na vulgaridade, adolescente da Aliança Francesa,  fez a sua, a única que teve e terá: je suis gauche. Não é Drummond, que ela é mais Baudelaire. Coisa da política: “sou de esquerda”, sob o seio esquerdo, ainda visível a olho e corpo nus.

MADURA, sazonada, mantém o frescor idealista da esquerda. Que não se abalou diante do Mensalão, quando perdeu a ilusão sobre Lula/PT. Bolsonaros, ela esconjura com o No pasarán de La Pasionaria, a comunista que combateu o fascismo na guerra civil da Espanha.

Sobre Solda

Luiz Antonio Solda, Itararé (SP), 1952. Cartunista, poeta, publicitário reformado, fundador da Academia Paranaense de Letraset, nefelibata, taquifágico, soníloquo e taxidermista nas horas de folga. Há mais de 50 anos tenta viver em Curitiba. É autor do pleonasmo "Se não for divertido não tem graça". Contato: luizsolda@uol.com.br
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