Novos jatos

A Lava Jato entra em nova etapa. Menos escandalosa, mas isso os jornalistas resolvem. Até porque o interesse merecido pelos novos capítulos não será pouco. O começo de um deles está programado para hoje. O outro já deu o primeiro passo, muito promissor.

O julgamento de diretores da Odebrecht tem logo mais a inquirição, perante o juiz Sergio Moro, dos delatores premiados Paulo Roberto Costa e Pedro Barusco. Entre os diretores réus nesse processo figura Marcelo Odebrecht. Além de outros possíveis interesses –da curiosidade a questões jurídicas, passando pelos fatos todos do inquérito– Marcelo Odebrecht está preso há quatro meses sem ceder às contingências que o pressionam para satisfazer a Lava Jato, aceitando a delação premiada.

Marcelo é em si mesmo uma curiosidade a ser desfeita, e deve sê-lo inclusive para a Lava Jato. O que o fez adotar conduta inflexível e tão diferente do que fizeram os demais donos e dirigentes das empreiteiras? O que tem a dizer que justifique sua atitude? A Lava Jato entra na fase em que devem aparecer as respostas, na inquirição de Marcelo ao final dos interrogatórios preliminares, de delatores premiados e eventuais testemunhas, por Sergio Moro.

Paulo Roberto Costa e Pedro Barusco têm, no mínimo, que dizer nesse julgamento o mesmo dito na delação premiada sobre os diretores da Odebrecht. Mas o que Paulo Roberto disse, não só a respeito da Odebrecht, inaugurou a outra vertente nova da Lava Jato, ao receber sob forte contestação do recém-delator premiado Fernando Soares, o Baiano. É a fase em que a prioridade dada a delações premiadas, em detrimento de investigações efetivas, vai mostrar desencontros como um problema para os juízes. Talvez não para Sergio Moro, mas para aqueles que nas instâncias superiores vão julgar recursos e para os ministros do Supremo, que conduzem os casos de políticos apontados por delatores.

Será a hora de provas. E, quem sabe, a hora da verdade. Advogados dizem haver, à espera de elucidação, numerosas incoerências de delatores e contradições entre vários deles, ou deles com empreiteiros. Para os delatores premiados também será um problema, e problema maior a falta de provas, porque a queda de afirmações suas pode fazer tribunais superiores anularem o prêmio de liberdade. Para vários deles, já se pode ver, liberdade endinheirada.

Eduardo Cunha, impeachment, “pedaladas” tiraram a Lava Jato da frente do palco. É só esperarem um pouco para ver a reação.

COMO SEMPRE

Mais um pronunciamento político de general. Desta vez, o comandante do Exército na Região Sul, general Antonio Hamilton Martins Mourão. Até neste último sobrenome faz lembrar o iniciante do dia 31 de março de 64.

O que o general chamou de “dever de esclarecer a opinião pública” incluiu coisas assim: “a vantagem da mudança”, na “mera substituição da PR” (a presidente), “seria o descarte da incompetência, má gestão e corrupção”. Em qualquer tempo, opinião perfeita para gerar uma crise.

Foi sempre assim que começou. O “esclarecimento” de um, e aí vem uma “análise de conjuntura” de outro, logo alguma coisa mais. Foi sempre assim que seguiu. Entardece depressa. E vem a noite, de chuva e trovões.

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Janio de Freitas – Folha de São Paulo

Sobre Solda

Luiz Antonio Solda, Itararé (SP), 1952. Cartunista, poeta, publicitário reformado, fundador da Academia Paranaense de Letraset, nefelibata, taquifágico, soníloquo e taxidermista nas horas de folga. Há mais de 50 anos tenta viver em Curitiba. É autor do pleonasmo "Se não for divertido não tem graça". Contato: luizsolda@uol.com.br
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