O 13 de maio

Entre 1500 e 1867 os navios negreiros embarcaram na África cerca de 12,5 milhões de cativos, desse total 10,5 chegaram vivos à América, estima-se que 1,8 milhão morreram na travessia. Ao Brasil vieram 5,8 milhão de escravos.

A abolição da escravatura ainda não é plena.

Um estudo no qual foram analisadas 174 novelas produzidas entre 1964 e 1997 pela Globo e Tupi revelou que os negros e mulatos sempre foram retratados de forma submissa e preconceituosa, isso reforçou o imaginário racista brasileiro e estereotipou o negro brasileiro.

O livro se transformou em filme: A negação do Brasil: o negro na telenovela brasileira do estudioso Joel Zito Araújo.

O estereótipo novelesco reforçou e estabeleceu padrões tidos como naturais, normais e aceitáveis. Nesse sentido banalizou-se a violência contra as mulheres negras, os assassinatos nas periferias.

A exclusão social em larga escala somada ao racismo estrutural gera violência e criminalidade e o resultado é que em 2019 dos quase oitocentos mil encarcerados no Brasil, cerca de 66,7% são negros.

Os negros lideram as vítimas de homicídios, em 2019, foram 74,4%. A intervenção policial faz 4,2 vítimas a cada 100 mil habitantes negros.

O crime de injúria racial possui elementos referentes a raça, cor, etnia, religião e tem crescido no Brasil, de 2018 a 2019, subiu cerca de 23,4%.

Um negro é assassinado no Brasil a cada 23 minutos. As mulheres negras têm 2,2 vezes mais chances de serem mortas do que as brancas, a violência contra as mulheres só aumenta no Brasil.

A população negra ganha menos e é a que mais sofre com o desemprego e a que mais é vítima da pandemia. Pertencer a uma religião afro-brasileira ainda é um desafio, cerca de 59% dos crimes de intolerância são praticados contra candomblecistas e umbandistas.

O 13 de maio é todo o dia, acabar com o racismo estrutural no Brasil e sua negação hipócrita ainda não é uma política de estado.

Quatro séculos de escravidão não se resolvem no passe de mágica, mas somente com políticas sociais inclusivas e, essencialmente, com educação em larga escala, pública e de alta qualidade.

Fontes:

GOMES, Laurentino. Escravidão: do primeiro leilão de cativos em Portugal até a morte de Zumbi dos Palmares. V. I. Rio de Janeiro: Globo Livros, 2019.

https://www1.folha.uol.com.br/fsp/mais/fs0705200007.htm

https://www.dw.com/pt-br/ser-negro-no-brasil-mais-que-dobra-chances-de-ser-assassinado/a-41747555

https://www.correiobraziliense.com.br/app/noticia/cidades/2019/11/11/interna_cidadesdf,805394/religioes-de-matriz-africana-alvos-de-59-dos-crimes-de-intolerancia.shtml

https://forumseguranca.org.br/wp-content/uploads/2020/10/anuario-14-2020-v1-interativo.pdf

https://www.extraclasse.org.br/opiniao/2021/01/os-riscos-de-ser-jovem-e-negro-no-brasil/

https://www.revistas.udesc.br/index.php/arteinclusao/article/view/10486

Sobre Solda

Luiz Antonio Solda, Itararé (SP), 1952. Cartunista, poeta, publicitário reformado, fundador da Academia Paranaense de Letraset, nefelibata, taquifágico, soníloquo e taxidermista nas horas de folga. Há mais de 50 anos tenta viver em Curitiba. É autor do pleonasmo "Se não for divertido não tem graça". Contato: luizsolda@uol.com.br
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