Em Londres para o painel de encerramento do Brazil Forum UK, seminário anual sobre temas brasileiros ocorrido na London School of Economics, a presidente cassada Dilma Rousseff se mostrou arrependida por, “infelizmente”, ter sancionado a Lei n.º 12.850/2013. Foi este diploma legal o responsável por regulamentar o instituto da colaboração premiada, um marco divisor da Operação Lava Jato.
“Infelizmente – vou começar assim – infelizmente eu assinei a lei que criou a delação premiada, mas foi assinada genericamente, sem tipificação exaustiva e poderia virar uma arma”, disse Dilma Rousseff em seu português peculiar. Para a presidente cassada, com os acordos de colaboração premiada “começa o processo de maior investigação do Brasil”.
Neste ponto, não há o que discordar. Mas em se tratando de Dilma Rousseff, convém lembrar, é o arremate de suas perorações que costuma jogar alguma luz sobre seu confuso raciocínio: “Utilizaram o que construímos contra nós”.
À medida que avançavam as investigações da Lava Jato e os figurões do PT e dos partidos que compunham a base aliada dos governos petistas foram, pouco a pouco, passando à condição de investigados, réus ou sentenciados, a primeira das muitas “narrativas” criadas com o intuito de escamotear a dureza dos fatos – o Brasil fora governado por um grupo de ineptos e criminosos durante o tempo em que o PT esteve no governo federal – dizia justamente que os casos de corrupção que, dia sim e outro também, estarreciam os brasileiros por sua magnitude e desfaçatez só vinham à tona porque foi durante as gestões petistas que foram reforçados ou criados mecanismos eficazes no combate à corrupção, entre os quais um suposto fortalecimento da Polícia Federal e a sanção da lei que Dilma critica no exterior.
Como a médio e longo prazos a realidade sempre se sobrepõe às fantasiosas narrativas, logo a natureza falaciosa do discurso petista ficou evidente. Quatro anos após o início da Operação Lava Jato, gabinetes de todas as instâncias do Poder Judiciário e celas de estabelecimentos prisionais em variados Estados lidam com nomes que não se restringem a apenas um partido político ou coligação.
Os acordos de colaboração premiada representam um dos maiores avanços no combate à corrupção na história do País. Foi graças a eles que investigações policiais que há não muito tempo levariam a nada se tornaram ações penais que resultaram nas condenações de importantes figuras dos meios político e empresarial.
Em que pese o mau uso do instituto que foi feito por alguns membros do Ministério Público Federal (MPF), por razões ainda obscuras para a sociedade, não é a importância da colaboração premiada que deve ser questionada. Fosse uma estadista, Dilma Rousseff seria capaz de reconhecer os avanços trazidos pela Lei n.º 12.850/2013. “Infelizmente”, no entanto, ela prefere seguir sua trajetória política como mais uma agitadora de torcida.
É curioso, mas não chega a ser surpreendente, que Dilma e os petistas se mostrem arrependidos por seus acertos, não pelos erros que cometeram no poder. Pouco antes de ser preso, o ex-presidente Lula da Silva também lamentava não ter avançado em seu segundo mandato com a reinstituição da censura no Brasil, que ele candidamente costuma chamar de “regulação da mídia”.
A presidente cassada Dilma Rousseff deveria se arrepender por ter afundado o País na pior recessão econômica de sua história. Deveria se arrepender por provocar o desemprego de 13 milhões de brasileiros.
Como ex-presidente do conselho de administração da Petrobrás, Dilma deveria se arrepender por ter autorizado a inexplicável compra da refinaria de Pasadena, no Texas.
Como ex-chefe de Estado, Dilma Rousseff deveria se arrepender por ter enxovalhado o nome do Brasil no exterior ao dar apoio a regimes autoritários e populistas na África e na América Latina.
São muitas as razões para um eventual arrependimento de Dilma Rousseff. Elas só não devem superar as de muitos de seus eleitores.
Editorial|Estadão