Conheci o Paulo Leminski no começo dos anos 60, século 20. Foi no Cine Clube Pró Arte do velho Colégio Santa Maria na Praça Santos Andrade. O Cine Clube projetava filmes fora do circuito de distribuição norte-americano, proporcionando uma visão do chamado cinema de autor. Lá, víamos filmes da nouvelle vague francesa, do neorrealismo italiano, do novo cinema polonês e brasileiro, filmes japoneses, indianos, russos, tchecoslovacos e, também, filmes norte-americanos de reconhecidos realizadores. Depois da projeção as pessoas eram convidadas a um debate. Foi lá que começamos a conversar e a ver que tínhamos interesses em comum: o cinema, a literatura, a poesia, as artes.
Pouco tempo depois fui a uma palestra que ele deu sobre poesia concreta. Época de polarização política, foi confrontado pelo pessoal de esquerda provocando acalorado debate. Fui duas vezes ao seu apartamento no edifício São Bernardo, na Dr. Muricy.
Mas nossa aproximação e a consequente amizade se deram quando da entrada do Leminski no mundo da publicidade onde eu já atuava havia pouco tempo. Tivemos muitas conversas sobre poesia, fui apresentado à obra ‘de Ezra Pound, Charles Sanders Pierce, à semiótica, à vanguarda. Por outro lado, emprestei a ele livros de Isaac Deutscher, notadamente a biografia de Trotsky, E.H.Carr, Mário Pedrosa. Elaboramos um projeto, nunca realizado, talvez por minha culpa, de uma exposição fotográfica sobre o Templo Neopitagórico construído pelo poeta Dario Vellozo na Vila Izabel. Misturaríamos fotos com versos pinçados do Atlântida de Vellozo.
A agência PAZ, onde trabalhava, fez com que se editasse seu livro Catatau. Entre os anos de 1975 e 1983, nos víamos muitas vezes por semana. Poeta ainda sem livro de poesia publicado, consegui com os irmãos El -Khatib, o Faruk e o Faissal, da Grafipar, a publicação de seu primeiro livro de poesia em troca de trabalhos fotográficos que eu tinha prestado para a empresa deles. Assim nasceu o Não fosse isso e era menos não fosse tanto e era quase. Convivi com o Paulo e a sua família: sua mulher, a poeta Alice Ruiz, seus filhos Miguel Ângelo, precocemente falecido, sua filha Áurea Alice e, depois, a filha Estrela.
dos Editores