É pura perda de templo tentar explicar por que o Templo das Sete Musas, sede do Instituto Neo-Pitagórico, pegou fogo na noite de 24 de agosto de 1987. A explicação é simples. Em 1907, Dario Vellozo, poeta, professor de philosophia, tipógrafofo, guru da mocidade curitibana no Gymnasio Paranaense, erigiu o Templo no bairro de Vila Isabel, então uma floresta de contos dos irmãos Grimm.
Nesse ano, Dario soube da presença na pequena cidade de um eletricista alemão, Schroeder, que tinha acabado de chegar da Europa. Procurou-o e contratou seus serviços para realizar a instalação de luz elétrica no Templo. Eletricidade era então uma novidade absoluta. Mas encomendou a Schroeder uma tarefa muito especial. A instalação de luz deveria conter dentro de si um mecanismo de autodestruição que deveria funcionar dali a 80 exatos anos, a 24 de agosto, Dia de S. Bartolomeu, quando o diabo tem uma hora de seu.
Dario queria durar. E sabia que viveria na memória dos seus contemporâneos. Mas estas morreriam. Em 80 anos, a memória do Templo e de Dario ja estaria esmaecida, como uma foto antiga.
Um incêndio devolveria o Templo à notoriedade e a atenção do público por mais anos. Assim, um Templo feito de chamas subiu pelos ares em 24 de agosto de 1987. Dizem algumas testemunhas do sinistro que foi possível ver no meio do fogaréu um rosto sorrindo com um olhar zombeteiro de quem diz:
— Não disse que eu ia durar?
Nicolau|Ano I|nº 3