Por que algumas mulheres têm tanto borogodó e outras são só o ó do borogodó?
“Por que o borogodó da Brigitte incomoda tanto?” foi o título da minha coluna na Folha, em 6/9/2019, após o então ministro da Economia, Paulo Guedes, fazer um comentário grosseiro a respeito da aparência da primeira-dama da França:
“O Macron quer fazer uma intervenção no Brasil porque chamaram a mulher dele de feia… O presidente falou que a mulher do Macron é feia. O presidente falou a verdade, ela é feia mesmo. Mas não existe mulher feia, existe mulher observada do ângulo errado. E fica essa xingação”.
Muitos leitores, na época, ficaram indignados com a grosseria do ex-presidente e do ex-ministro e me escreveram dizendo que achavam Brigitte Macron uma mulher muito interessante e com bastante borogodó.
Mas, afinal, o que é o tal do borogodó?
No meu novo livro, “A Arte de Gozar: Amor, Sexo e Tesão na Maturidade”, apresento uma pesquisa inédita que fiz com 100 homens e mulheres sobre o significado do borogodó na cultura brasileira.
Ninguém conseguiu definir direito o que é borogodó, mas todos souberam dizer quando alguém tem (ou não tem) borogodó. Daí o seu doce e irresistível mistério.
Estou buscando criar uma definição que sintetize as características mais citadas na minha pesquisa, mas confesso que ainda sinto falta de algo inclassificável:
Borogodó = carisma + poder de atração + autenticidade + leveza + bom humor + um algo a mais sem qualquer explicação
Carisma seria, então, o melhor sinônimo de borogodó?
Após entrevistar homens e mulheres sobre o tema, acredito que o borogodó é uma qualidade ainda mais rara e preciosa do que o carisma. Estou chegando à conclusão de que, no Brasil, o borogodó é um verdadeiro capital.
O borogodó, para uma atriz de 65 anos, é uma espécie de poder inexplicável, uma luz natural que vem de dentro, como uma graça divina.
“O melhor exemplo de mulher com borogodó é Brigitte Macron. Ela tem 70 anos, é casada com um homem 25 anos mais novo e nunca deixou de ser uma mulher poderosa, inteligente, elegante, autêntica, independente, corajosa. A Brigitte nunca deixou de ser ela mesma, nunca precisou se exibir ou se esforçar para chamar atenção. É natural, está no DNA dela”.
Para ela, “o segredo do borogodó é não ter vergonha de ser você mesma”.
“Todo mundo gosta de mim de graça. Sempre fiz sucesso com homens e mulheres de todas as idades. Não tenho vergonha de estar mais velha, mais gorda, mais flácida, mais pelancuda e com muito mais rugas, estrias e celulites. Acho que a liberdade, a alegria e a coragem de ser eu mesma é o meu maior borogodó.”
Seu marido, um fotógrafo de 40 anos, disse que a atriz é “a rainha do borogodó”.
“Minha mulher tem 65 anos, mas tem muito mais borogodó do que muitas garotinhas, porque o borogodó não depende do colágeno nem da bundinha durinha. Ela chega em qualquer lugar e naturalmente rouba a cena, ilumina todo o ambiente, contagia com suas risadas gostosas, inteligência e alegria de viver. Ela brinca o tempo todo com os próprios defeitos, faltas e imperfeições. Sabe o que me dá mais tesão? Ela sabe rir dela mesma e me faz dar risadas até mesmo nos momentos mais difíceis.”
Ele adora fotografar “mulheres inteligentes e interessantes que, apesar de mais velhas e consideradas fora do padrão, têm um baita borogodó”; e odeia trabalhar com “mulheres que, apesar de jovens e perfeitas de corpo e rosto, são só o ó do borogodó”.
“Trabalho com mulheres lindas que são arrogantes, nojentas, exibidas, narcisistas, desagradáveis e insuportáveis. Aquele tipo de mulher que deve se perguntar o tempo todo: ‘Espelho, espelho meu, será que existe alguém com mais borogodó do que eu?’. Sabe qual é o paradoxo do borogodó? Se uma mulher se achar cheia de borogodó, pode ter certeza de que está diante de uma chata sem um pingo de borogodó. Ela é, na verdade, só o ó do borogodó.”
Sei que você deve estar se perguntando agora: “Será que eu tenho borogodó?”. Se depois de ler sobre o paradoxo do borogodó você responder que sim, é provável que não tenha. Se responder que não, também não deve ter, pois os outros já teriam dado provas do poder do seu borogodó.
Agora, se você responder que não sabe, talvez faça parte do universo das raras pessoas encantadoras que têm esse tal de borogodó. Ou será que você é só “o ó do borogodó”?