O Brasil precisa de uma ditadura?

Precisamos de uma ditadura no Brasil para fechar o Congresso Nacional e o Supremo Tribunal Federal e colocar ordem na casa? Onde viriam os quadros de servidores para fazer isto? Das polícias militares e civis, das milícias, das forças armadas, da sociedade civil? O que teríamos numa ditadura?

Um poder executivo sem responsabilidade com a saúde pública, nomeando apaniguados incompetentes e dos partidos tradicionalmente corruptos, veríamos o patrimônio nacional dissolvido como a venda das joias da vovó?

Ministros mentindo em seus currículos, a imprensa desrespeitada, o poder judiciário sofrendo chacotas e escárnios, alguns membros de instituições alinhadas com o poder fariam grampos ilegais e manipulariam processos penais e eleitorais, a indústria nacional sucumbiria aos interesses de corporações amigas do poder?

Certamente numa ditadura o meio ambiente seria devastado sem limites, Amazonas, Pantanal, o garimpo e a grilagem do agro pop em terras públicas e indígenas.

A expansão e a liberação das armas para grupos politicamente alinhados com o poder.

Veríamos entrevistas do ditador em cercadinhos com bravatas e fanfarronices com a claque ora rindo, ora aplaudindo. As famílias do ditador e de seus aliados? Todos impunes ou com processos penais a passos de tartaruga, aguardando a sagrada prescrição dos seus crimes.

Políticos com dinheiros nas cuecas seriam perdoados, tacitamente, ou pelo decurso das investigações. Empresários amigos do poder venceriam licitações, direitos trabalhistas e sociais seriam revogados, os controles fiscais do estado seriam elásticos e flexíveis.

E a liberdade de expressão? Desde que alinhada com o poder não haveria problemas, mídias que criticassem o governo não ganhariam propaganda oficial.

Os livros seriam reeditados para recontar os fatos históricos e revelar as “verdades”, as pesquisas científicas nas universidades seriam paralisadas ou receberiam parcos investimentos.

As religiões aliadas do poder teriam lugar nos poderes executivo, legislativo e avançariam no judiciário, terrivelmente religiosos seriam nomeados para garantir a nova moral da família brasileira.

Se o povo não se convencesse, teríamos centrais de informações falsas disparando milhares de notícias favoráveis ao poder de plantão e inventando coisas das oposições para garantir o elevado índice de popularidade às custas de mentiras e de sucessivas reeleições.

Em meio a qualquer crise na saúde pública o poder poderia negar a pandemia e dar as costas para a vacina ou outros meios elementares de prevenção, morreriam milhares de pessoas.

A terra seria plana e ninguém reclamaria disso, astrólogos e filósofos sem diploma seriam os gurus desse governo, bombados e musculosos exibiram suas armas e fariam bravatas contra os poderes que ainda restassem.

A economia sucumbiria, sem críticas ou comentários da mídia e dos jornalões nutridos pelos recursos públicos. A história se repetiu? De 1964 (2016) que quatro anos depois experimentou o Ato Institucional n. 5 em 1968 (2020)?

Bem-vindo ao Brasil da “nova” política.

Sobre Solda

Luiz Antonio Solda, Itararé (SP), 1952. Cartunista, poeta, publicitário reformado, fundador da Academia Paranaense de Letraset, nefelibata, taquifágico, soníloquo e taxidermista nas horas de folga. Há mais de 50 anos tenta viver em Curitiba. É autor do pleonasmo "Se não for divertido não tem graça". Contato: luizsolda@uol.com.br
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