Não há nada que justifique uma eventual indicação de Cristiano Zanin ou de qualquer outro homem branco ao Supremo Tribunal Federal. Nada além do uso de uma das instituições que é pilar da democracia para que o presidente Lula faça um afago em seu advogado ou em alguém que não traz a representatividade que se faz urgente na casa.
Tivesse o tribunal lotado de mulheres já seria um acinte em relação ao princípio de impessoalidade na escolha da figura que vai ocupar um cargo por décadas. Zanin representa Lula desde 2013. Apenas. Nem o currículo adequado preencheria as exigências, mas estão aí Nunes Marques e André Mendonça deixados como parte da herança maldita de Jair Bolsonaro.
Recentemente, Lula contradisse suas próprias falas ao afirmar que “todo mundo compreenderia” se escolhesse Zanin, diferentemente do que afirmou na época da eleição: “não é prudente, não é democrático querer ter ministros da Suprema Corte como amigos”. Com exceção da turma do “passo pano mesmo para o meu político”, é incompreensível para qualquer pessoa que tenha dois neurônios livres de cooptação ideológica que a discussão não seja em torno de possíveis nomes de mulheres, de negros ou de uma mulher negra.
Lula se comprometeu com causas feministas, tem afinado o discurso para acompanhar as demandas, que são muitas. Nem de longe se parece o brucutu do ex-presidente que cantava música que comparava mulheres a cadelas, mas não pode ser da boca para fora.
Um problema maior do que a questão salarial é o do número de mulheres em posições de liderança. Nos cursos de direito somos maioria, mas a participação no Poder Judiciário é de 38,8% de magistradas, segundo o Conselho Nacional de Justiça.
Não adianta apresentar projeto que garante igualdade salarial —até porque já existe lei para isso— quando na oportunidade de indicar uma mulher para o cargo mais alto da Justiça o presidente pode vir a escolher o de sempre: um homem; branco.