É muito triste o desespero que tomou conta de Manaus pela impotência em deter a mortandade causada pelo coronavírus. O prefeito da capital amazonense, Arthur Virgílio Neto (PSDB), disse o seguinte, em entrevista publicada nesta sexta-feira em O Globo: “A gente está vendo cenas de filme de terror”.
O cenário dramático se repete em vários estados. O Pará entrou em estado de alerta depois de o número de mortes ter quadruplicado em apenas uma semana. Somente no dia de ontem foram registradas 68 vítimas fatais do Covid-19. O total de mortes até agora é de 244. Os hospitais do estado estão no limite. Até o governador foi infectado pelo vírus.
O Piauí fechou suas fronteiras com o Ceará, estado que registra maior índice de casos confirmados de Covid-19 no Nordeste. O governo decretou calamidade e criou barreiras sanitárias nas divisas com outros estados. Os piauienses estão em quarentena oficial até 21 de maio.
No Maranhão houve uma corrida aos supermercados depois do anúncio de lockdown no próximo dia 5. A capital São Luís e mais três municípios maranhenses terão todas as atividades suspensas, mantendo aberto apenas o que é essencial.
O desespero faz sentido. Não se pode prever exatamente como a situação do país estará nos próximos dias, mas não resta dúvida de que o pior está por vir. Quando até um sujeito completamente evasivo como este novo ministro da Saúde diz que o número de mortos pode chegar a mil por dia, então é melhor se precaver e não levar a sério de forma alguma o tresloucado presidente Jair Bolsonaro em seus apelos para que se rompa de vez o isolamento social.
Em Manaus, o prefeito Arthur Virgílio Neto disse que na última segunda-feira houve o enterro de 142 pessoas, das quais das quais 28% morreram em casa. É quase um terço.
“Não sei se essas pessoas morreram porque se automedicaram, não tiveram acesso a atendimento ou se porque acharam que, como disse o presidente, era só uma gripezinha”, ele disse, apontando a influência da irresponsabilidade de Bolsonaro no quadro aterrador — “sinistro mesmo”, ele diz — na sua cidade.
Arthur Virgílio disse também que falta o auxílio do governo federal. A capital amazonense está racionando até remédios. Até agora não apareceu nenhuma ajuda do governo Bolsonaro. Ele se queixa também da ausência do Ministério da Saúde, o que não acontecia na época de Luiz Henrique Mandeta, que segundo o prefeito “se fazia presente”.
Em meio a uma dramática pandemia, estados e municípios brasileiros contam apenas com seus próprios meios, enquanto o presidente Jair Bolsonaro, que deveria comandar um esforço nacional no combate ao coronavírus, faz sua bagunça política e tenta jogar a culpa pela crise exatamente sobre os dirigentes públicos que estão mais empenhados na batalha sanitária.
Com a previsão de um agravamento dessa doença e diante de um Governo Federal ausente só vai restar a prefeitos e governadores apelarem pela ajuda de organismos internacionais, como a ONU, ou mesmo para governos estrangeiros.