Catarinense de Treviso, distrito de Urussanga, chegou ao Paraná depois de resolver um problema existente na então BR 2, hoje BR-116. No trecho gaúcho que ligava Galópolis a Caxias do Sul, havia uma rocha que bloqueava o caminho e espantava os empreiteiros. O jovem Ricardo, então em plena juventude, empunhou uma picareta e iniciou pessoalmente o serviço. E não o abandonou mais. Faleceu aos 93 anos em plena atividade, já então detrás de uma escrivaninha, traçando planos e distribuído tarefas. Não tinha curso superior, mas sabia mais que seus engenheiros e mestres de obras. Aprendera fazendo. E fazia com gosto.
É claro que como todo empreiteiro de obra pública, Ricardo Pussoli queria ganhar dinheiro, capitalizar suas empresas, mas isso era secundário. O principal para ele era fazer, realizar, construir. Não poucas vezes, tão logo vencia uma licitação, movimentava a tropa, antes mesmo da emissão da nota de empenho e da ordem de serviço. E não adiantava ser alertado pelo filho e fiel escudeiro Rafael. O negócio de Ricardo era o trabalho, sem perda de tempo. Não por acaso, terminava as suas obras antes do prazo previsto.
Na vida pessoal, foi sempre uma pessoa simples, que nem de longe parecia o grande empresário que era. Não frequentava convescotes, não aparecia nas colunas sociais. O máximo que se permitia era marcar presença na Boca Maldita, aos sábados pela manhã. Ali encontrava os velhos amigos e fazia novos.
Os concorrentes, maldosamente, acusavam Pussoli de ser o favorito da administração pública, particularmente a municipal, na distribuição das obras. Não era verdade. Ele participava regularmente das licitações e se as vencia era porque atendia a todas as exigências dos editais e oferecia o preço mais vantajoso. Acrescentava a isso a experiência de mais de 50 anos na lida e a confiança e o respeito dos administradores públicos. Daí a constância das placas de sua construtora em inúmeras obras da cidade e arredores.
Não poucas vezes, porém, demandou, administrativa e judicialmente, contra a Sanepar, DER, DNER, Decom, Secretaria Municipal de Obras Públicas de Curitiba, Infraero, Suderhsa e vários outros órgãos públicos. Sei disso porque, como advogado, assinei, com outros colegas, inúmeras petições em nome da Construtora Pussoli, no final dos anos 90/início dos anos 2000.
Ricardo Pussoli não era adepto de demandas, administrativas ou judiciais. Era do tempo em que as regras estabelecidas eram cumpridas sem problemas e a palavra garantida pelo fio do bigode. Mas, às vezes, não havia jeito. E, mesmo constrangidamente, agia.
Foi um grande homem que passou por este mundo e deixou não só a sua marca e o seu exemplo, mas muita saudade. Quantos Ricardos Pussoli existem hoje em dia? Curitiba ainda está lhe devendo uma merecida homenagem.