O Estado do Paraná demitiu o cartunista Luiz Solda. Ele fez uma charge mostrando um macaco dando banana ao presidente dos EUA, Barack Obama. Estou entre aqueles que degustam as charges, mas é claro que o defenderia também se as detestasse. A censura é um ato execrável, predatório e inútil. Foi um erro do jornal demitir o cartunista. Crime de opinião e de expressão, como nos velhos e atormentados tempos da ditadura militar.
Fiz minha dissertação de mestrado – quatro anos de trabalho, na UFRGS, em Porto Alegre – e a de doutorado, mais seis anos, ambas sobre a censura, na USP, em São Paulo. Sei do que falo. As duas teses viraram livros. A proibição é tiro na culatra: prejudica os editores e os leitores. A História dá a volta por cima e Luiz Solda terá doravante o seu retrato emoldurado por essa proibição. Ainda é tempo de os editores que o demitiram se arrependerem, voltarem a examinar o problema, descontar o calor da hora e readmiti-lo. Seria um gesto de grandeza.
Revirando no túmulo
Estreei como escritor em O Estado do Paraná, levado à redação pelas mãos do cineasta Sílvio Back. Os dois contos com os quais estreei na imprensa foram adaptados para a televisão com o talento de Antunes Filho, na TV Cultura, em São Paulo.
Preso por contos publicados num outro jornal, depois cumpri pena em liberdade condicional, incurso na Lei de Segurança Nacional e na Lei da Imprensa, que tantas vítimas fez entre jornalista, escritores, intelectuais e artistas, enfim sobre todos os que ousavam discordar e expressar suas discordâncias. Libertado, fui condenado a dois anos de prisão e passei a me apresentar periodicamente aos tribunais, nos termos da sursis. E nesse ínterim O Estado do Paraná publicava outros contos e textos meus, me entrevistava – era um sinal, uma força que fez com que uns poucos acusadores recuassem. Eu morava no Paraná naqueles anos.
Por tudo isso, por ter O Estado do Paraná como presença tão memorável em minha vida de escritor e professor, é que me entristeço com a demissão de Luiz Solda. Onde puder, farei chegar a minha voz e o meu pedido: que a demissão de Luiz Solda seja reconsiderada. Hoje sou escritor que tenho livros publicados em diversos países e em vários idiomas, com prêmios nacionais e internacionais, mas tudo começou com aqueles primeiros passos em O Estado do Paraná.
O jornalista e romancista Manoel Carlos Karam, diretor de redação de O Estado do Paraná por tantos anos e hoje nome de praça no Mercado Municipal em Curitiba, que nos deixou tão cedo, com cinquenta e poucos anos, lá do céu deve estar furioso com o que fizeram com o jornal que ele sempre soube defender tão bem.
Negão presidente
O tempora, o mores! Esperamos, como disse, que reconsiderem essa demissão antes que a repercussão não prejudique um jornal que faz por merecer o respeito dos leitores. Então que esse respeito seja mútuo e que ele não exclua de seus quadros um cartunista tão talentoso.
Se já o excluiu, que o reinclua, pois vivemos tempos de inclusão, como esse ora vivido pelos Estados Unidos, que dão uma referência solar ao mundo, elegendo um negro para a presidência da República.
Mas daí a não poder brincar com o tema é proibição que não podemos aceitar. Quer dizer que se eu registrasse o que, em recente reunião de escritores referenciais, dissemos e ouvimos, que Barack Obama é um “fabuloso negão”, seríamos vetados em O Estado do Paraná?
25|Março|2011