A VISÃO DE MUNDO de Jair Bolsonaro é de chorar. Para ele, sua experiência de vida ensinou tudo que precisa saber. E na presidência essa experiência é decisiva no fixar os rumos que o Brasil deve seguir. Ontem o presidente brindou-nos com mais um momento de sabedoria: via Facebook, falou sobre o trabalho infantil. Começa por se declarar favorável ao trabalho infantil tolhido no Brasil pelo excesso de direitos.
O presidente, nenhuma novidade, é homem avesso à leitura, incapaz de reflexão e com trava mental para as abstrações. Ele sabe o que viu quando quis ver. E quando esteve exposto a algo que poderia aprender, baixou-lhe o véu da indiferença, que leva à impermeabilidade da ignorância. O melhor exemplo está nas três décadas que passou na câmara dos deputados e sua inaptidão para trabalhar com…a câmara dos deputados.
Daí que o trabalho infantil para Bolsonaro é aquele que ele prestou quando o pai era capataz da fazenda onde vivia com a família. Um período idílico para o hoje presidente, que na fazenda, com irmão e irmã, aprendeu a dirigir trator, atirar com espingarda e a trabalhar na roça. Se foi bom para ele há de ser bom para todos os trabalhadores infantes, já que sua infância laboral foi bela. Não diz se o patrão o obrigava a trabalhar.
É onde surge o homem que vê o mundo com os antolhos da ignorância pessoal. Crianças que trabalhavam doze horas diárias na minas inglesas não fazem parte da memória cultural do presidente; ele não tem leituras, portanto, não tem informação. O desgaste físico e a alienação formativa desse trabalho, verdadeira servidão não contam para Bolsonaro, que renega a restrição histórica ao trabalho infantil.
O Brasil teve presidentes limitados, até limitadíssimos, alvos de anedotas pela sua ignorância. Lembro Hermes da Fonseca, Costa e Silva e Dilma Rousseff. Tirando a última, que se parece a Bolsonaro na arrogância de achar que tudo sabe, os outros tiveram a humildade de saber quando não sabiam e a inteligência de delegar decisões importantes a gente mais capaz. Menos Dilma, menos Jair Bolsonaro.
Nessa hora percebe-se a importância do sistema de separação de poderes, dos freios aos impulsos primários do presidente e o contrapeso às suas políticas irracionais e inconsequentes pelo Legislativo e Judiciário. Se até agora só vimos os poderes presentes para cassar presidentes e tirá-los do Planalto, agora constatamos que eles – sobretudo o Legislativo – refreiam o presidente que se orienta pela ignorância.