Augusto, o cachorro, na verdade, é Zeus. Maria, que fala ao telefone com Bolsonaro na propaganda do governo, é Célia. A gripezinha, na verdade, é uma pandemia. Wassef não sabia como Queiroz foi parar na casa dele. Wassef, na verdade, sabia como Queiroz foi parar na casa dele. Regina Duarte vai para a Cinemateca. Regina Duarte, na verdade, não vai para a Cinemateca. A cloroquina funciona. A cloroquina, na verdade, não funciona.
Mais perdido que gafanhoto no meio de ciclone bomba, Bolsonaro, sem saber, nos deu a imagem perfeita de seu governo: Carlos Alberto Decotelli. De tanto embaçar os limites de verdade e ficção, Decotelli agora pode incluir em seu currículo um cargo inédito: ex-ministro que nunca assumiu.
É justamente esse limbo do ex-ministro que nunca assumiu que define a política de Bolsonaro até aqui. O recorte de tempo que começa com o anúncio de Decotelli e sua posse interrompida foi recheado de conflitos, atritos, guerras de narrativas. Tudo baseado em informações falsas, distorcidas ou manipuladas. Muito barulho por nada. Ficou dando a impressão de que muita coisa aconteceu. Na verdade, nada aconteceu. E assim caminha seu governo. E assim, na verdade, seu governo não caminha.
Na pandemia, se deixarmos de lado os atritos, as confusões e as guerras de narrativas, o que, de fato, foi feito? A imagem que vai permanecer é o Placar da Vida, criado pela Secom para celebrar o número de curados e ignorar os caminhões de mortos.
É justamente no limbo do conflito inócuo, sem vencedores, que se sustenta a base de apoio. Sem projetos ou ideias, o governo recruta e retém apoiadores pela única virtude que restou: a fidelidade. Um governo enérgico que, na verdade, está imóvel.
Ou então, numa hipótese talvez mais verossímil, talvez estejamos vivendo a realidade da série “Dark”. Atibaia, na verdade, é um grande portal onde as pessoas viajam no tempo. Presente, passado e futuro são uma coisa só. O que está imóvel está também em movimento.
Zeus o cachorro, na verdade, é Laika. Célia, que fala ao telefone com Bolsonaro, é Martha Nielsen. A pandemia, na verdade, é a peste bubônica. Wassef não sabia que Queiroz era um viajante no tempo e espaço. Regina Duarte vai para a Mesopotâmia. A cloroquina, na verdade, é o emplasto Brás Cubas.