QUEM LER o artigo do vice-presidente Hamilton Mourão, hoje no Estadão, irá terá calafrios pela perspectiva de o general vir a substituir Jair Bolsonaro na hipótese do impeachment. Mourão desfia a retórica, o conteúdo, as ameaças veladas e a alusão a fantasmas das ordens do dia e mensagens de comandantes, ministros e generais presidentes da ditadura.
Trinta e cinco anos passados do fim da ditadura e o pensamento do provável futuro presidente da República reflete a visão de mundo dos anos 1964/1968. Saiu a ameaça comunista, que não mais existe, mas subsiste a leitura da subversão pelos governadores e pelos poderes e a manipulação da opinião pública pela imprensa.
É o Executivo sofrendo interferências do Judiciário e do Legislativo, afirma o general vice-presidente, que finge não ver que quem iniciou a provocação autoritária e a pressão sobre os outros poderes foi exato o Executivo. Pelo artigo depreende-se que o general vice-presidente vê na presidência um messias atacado pelos fariseus.
O general vice-presidente apresenta seu diagnóstico sobre a crise brasileira afirmando que nunca os brasileiros fizeram tanto mal ao seu país. Essa é a tradicional leitura paternal-salvacionista dos militares brasileiros, com a qual justificaram as intervenções na estabilidade institucional desde os primeiros tempos da República.
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