Muita gente se preocupa com o sucesso do deputado Jair Bolsonaro e a possibilidade dele ser eleito presidente da República. Pois o que eu acho mais perigoso é seu lado Tiririca, pela quantidade de políticos de péssima qualidade que podem ser eleitos na rabeira de sua candidatura. Como os gambás costumam se cheirar, o presidenciável exerce uma forte atração sobre esses tipos. São as piores figuras em cada canto do país, tudo gente muito conhecida e de má fama em seus lugares de origem. Uma dificuldade que isso traz para o presidenciável é que esse tipo de político é de alta rejeição, com uma consequência negativa inclusive no plano nacional. Reparem a dificuldade de Bolsonaro para atrair apoio de personalidades com credibilidade.
E este é um problema que pode crescer, conforme a campanha for esquentando. Por enquanto a roda que já começa a se juntar em torno dele é de políticos do baixo clero, sendo que alguns nem isso. Porém, mais adiante o foco da mídia vai alcançar alguns deles e dar repercussão ao que eles pensam, isso em meio à algazarra que as redes sociais viram em período eleitoral. Dá para imaginar o estrago quando alguns beócios estiverem opinando, interpretando o pensamento do candidato e até trazendo algumas sacadas novas. Quero ver como a equipe da campanha de Bolsonaro vai controlar a tigrada.
Já falei várias vezes que para mim o fenômeno Bolsonaro, especialmente pelo embalo que ele recebe das pesquisas, tem muito a ver com o que aconteceu com Ciro Gomes em algumas eleições importantes. Os institutos de pesquisas precisam vender seu peixe. É uma questão comercial. Além das pesquisas nacionais que saem na mídia, esses institutos vivem do atendimento a campanhas em todo o território nacional. Fazem inclusive o jogo sujo de turbinar candidaturas falsamente. Candidatos como Ciro Gomes e Bolsonaro são ótimos “garotos- propaganda”, antes do início oficial da eleição. O próprio Ciro já se queixou desse papel, feito por ele às vezes de forma involuntária. Chegou até a acusar de venal o dono do Ibope, Carlos Augusto Montenegro. Disse que ele “vendia até a mãe” e nunca foi processado por isso.
A condição atual de Bolsonaro também é muito parecida com a de outro candidato que já foi um fenômeno até mais forte que Ciro Gomes, numa situação que todo mundo esquece, em 2002, quando Lula conquistou sua primeira vitória. Ciro também disputou aquela eleição, em que Lula e Serra foram para o segundo turno, mas ficou em quarto lugar. Em terceiro ficou este político de que estou falando, Anthony Garotinho. Foi bem votado. Teve um pouco mais de 15 milhões de votos, enquanto Serra ficou com quase 20 milhões. Garotinho, no entanto, disputava por um partido sem estrutura, o PSB. Até pela ligação dele na época com o discurso moral extremamente reacionário da chamada bancada da Bíblia, a animação com sua candidatura tinha algo a ver com o que acontece atualmente com Bolsonaro. E também o provável efeito. Foi ali, com a candidatura Garotinho, que começou o crescimento da bancada da Bíblia.
No entanto, a própria candidatura Garotinho não foi longe, o que pode se repetir agora com quem parece estar com tudo nesta eleição. Em campanha, Bolsonaro deve virar líquido. É precária sua capacidade pessoal de defesa até de assuntos que são suas bandeiras essenciais e que animou até agora os seguidores fanáticos que deram base a sua candidatura. E nos outros temas importantes do país, como a desesperadora condição de grande parte dos brasileiros com a tragédia da nossa economia, neste caso o próprio Bolsonaro já disse que não acredita na importância do presidente da República dominar tal tema. Quero ver como vai ser dada essa explicação aos eleitores. E caso ele mude de ideia, pretendo me divertir ainda mais com suas explanações sobre economia e os temas diretamente relacionados ao problema, como a industrialização, o emprego e a precarização salarial e técnica das profissões, o incremento do comércio, a agricultura e a pecuária, a balança comercial brasileira, além de outras questões que não permitem chamar um futuro ministro para falar bonito e ganhar o voto do eleitor.