Garnizé

Acusam Luiz Inácio de falar demais. Desculpem, mas é necessário. Alguém precisa falar. O país está sem governo. Desde a derrota a 30 de outubro, o demente do Planalto recolheu-se em profunda mudez. Não solta um pio. Não cumprimentou os vitoriosos, não se desculpou, sequer agradeceu os ensandecidos que votaram nele. Deu erisipela no cérebro, se é que ele o tinha, e, finalmente, baixou ao hospital com dor de barriga. Pobre Michelle! Têm coisas que nem o Senhor Jesus, na Sua grandiosa bondade, é capaz de resolver. Sobretudo daqueles que usam o Seu santo nome em vão.

Como bem sintetizou Renato Essenfelder, n’O Estadão:

“O homem minúsculo, o homúnculo, apagou as luzes do palácio e foi dormir. Depois de tanto bradar, gritar e babar, depois de ameaçar e conspirar à luz do dia, incessantemente, calou-se. Recolheu-se à insignificância que o espera. Amém.”

Não obstante, na porta dos quartéis, bandos de endoidados, envoltos na bandeira nacional, de joelhos e com as mãos postas, imploram aos militares para que salvem o país. Fosse eu o soldado sentinela do portão fazia-os entrar e obrigava-os a fazer duzentas flexões cada um; depois, uma marcha acelerada de cinco quilômetros. O país estaria salvo.

Escuta aqui, Lula, agora que você retornou à terra de Pindorama e considerando estar de bem com os presidentes da Câmara e do Senado, ajusta com eles uma pequezinha que lhe permita assumir, depois de diplomado, a presidência da República. Uns quinze dias antecipados. Não haveria prejuízo para ninguém. O capitão se sentiria aliviado e o Brasil, penhorado, agradeceria.

Como eu disse ao leitor, na semana passada, foi difícil, muito difícil, desagradável, sofrido e quase desesperador aguentar os últimos quase quatro anos. E aí lembro-me do inesquecível Rubem Alves que, como tantos outros soldados da liberdade, dizia que suportou os anos sombrios da ditadura – e nós, agora os anos sombrios do bolsonarismo – embalados pela certeza de que aquilo não poderia durar para sempre. E Rubem citava como exemplo Dietrich Bonhoeffer, que, numa das cartas escritas da cela de um campo de concentração nazista, contava que o prisioneiro desconhecido que ali o antecedeu escrevera, na parede, uma mensagem de esperança desesperada: “Dentro de cem anos tudo isto terá terminado”.

Graças a Deus não precisamos esperar cem anos nem os 21 da ditadura militar. Foram apenas quatro, dos quais saímos machucados, maltratados e entristecidos, mas vivos. Com os sonhos e as esperanças intactos.

Como também disse o citado Essenfelder: “Homens minúsculos, a história demonstra, podem projetar sombras imensas. Mas passam, os homens e suas sombras.”

O Brasil é muito maior do que o pseudo capitão Jair Messias Bolsonaro e de seus tristes devotos.

P.S. – A Copel – Companhia Paranaense de Energia, fundada no idos de 1954 pelo então governador Bento Munhoz da Rocha Neto, é uma empresa pública de capital aberto, que tem dado milhões de reais de lucro ao governo do Estado. Por que diabos, então, aquele desorientado camundongo que hoje habita o Palácio Iguaçu quer livrar-se dela? Incompetência administrativa, talvez. Quando Jaime Lerner, influenciado pela sanha privatista de FHC, tentou privatizar a empresa, levou um chega para lá da população. Até o ex-presidente Itamar Franco esteve em Curitiba para fazer parte da luta. Tomou um cafezinho com o pessoal da Praça Zacarias, e deixou uma recomendação aos habitantes da Terra dos Pinheirais: “Não permitam que destruam esse patrimônio dos paranaenses!” Hoje, não há mais nenhuma voz gabaritada para defendê-la. E lá vamos nós, paranaenses, ladeira abaixo.

Sobre Solda

Luiz Antonio Solda, Itararé (SP), 1952. Cartunista, poeta, publicitário reformado, fundador da Academia Paranaense de Letraset, nefelibata, taquifágico, soníloquo e taxidermista nas horas de folga. Há mais de 50 anos tenta viver em Curitiba. É autor do pleonasmo "Se não for divertido não tem graça". Contato: luizsolda@uol.com.br
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