Brasileiros vão em massa às urnas, depois de quatro anos de ataque ao sistema eleitoral

Míriam Leitão – O Globo

Comparecimento demonstra a força da democracia e a confiança do sistema eleitoral e na urna eletrônica

As filas nas seções eleitorais mostram o grande interesse dos brasileiros por esta eleição. E este comparecimento demonstra a força da democracia e a confiança do sistema eleitoral e na urna, que foram tão atacados nestes últimos quatro anos. Há também muitas mudanças, a biometria cedida por órgãos parceiros, e muitos candidatos a serem escolhidos. Porém, o grande motivo das filas que se vê em todo o Brasil é o comparecimento alto. Até agora, as justificativas de voto foram poucas, segundo informa a Justiça Eleitoral.

Testemunha de outros tempos, nunca vou achar que está garantido o direito de voto, nunca vou considerar que votar é apenas uma rotina. Geralmente me emociono, penso no momento do voto e em como foi difícil chegar a esse ponto. Sempre me emociono com essa ideia de voto universal e secreto. É o momento em que de fato somos todos iguais.

Foi uma campanha que mudou algumas convicções. Uma delas é que a economia dita o voto. A frase famosa de James Carville, marqueteiro do Bill Clinton: “É a economia, estúpido”. Isso quer dizer que se a economia está mal, o candidato à reeleição vai mal também. Quando melhora, ele melhora também. Não é o que está acontecendo. O governo tentou fazer uma maquiagem e até conseguiu melhorar a economia, mas isso não alterou a situação. O presidente chega em desvantagem nas intenções de voto, segundo as pesquisas.

Outra coisa que se pensava como certo era que uma política clientelista pode atrair o voto dos mais pobres. Bolsonaro fez um aumento no benefício social para aumentar o voto dos mais pobres de forma descarada, tanto que tinha data para acabar, dezembro. O eleitor mostrou que não se deixa enganar. Não adianta você fazer um trazer um bom marqueteiro, que tente alterar a sua imagem ou equipe econômica produzir um período de bonança por um curto período, isso aí não convence o eleitor. Outro ideia sempre repetida é que o brasileiro não tem memória, e ele mostrou nessa campanha que tem memória, sim.

Quando se olha para o histórico das pesquisas dava a impressão de que não estava havendo alteração, porque Lula e Jair Bolsonaro ficaram no mesmo patamar durante todo o tempo. Mas olhando os números por dentro, eles pulsam, com muitas mudanças e diferenças nos sub grupos. Há diferença na tendência da escolha, por gênero, raça e renda. São vários brasis, esta eleição será muito estudada.

Apesar do favoritismo do ex-presidente Lula desde o começo, chegamos nesse ponto com enorme suspense sobre o segundo turno. As pesquisas não trouxeram resposta. Isso porque a resposta que dá é o eleitor. A pesquisa é um retrato, a democracia é um filme.

Muita coisa aconteceu, inclusive entre os candidatos que não disputam o primeiro lugar nas pesquisas. Ciro fez uma trajetória muito errática, acabou diminuindo de tamanho eleitoral inclusive com uma situação desfavorável no seu redutor, o Ceará. Simone Tebet apareceu com uma voz nova e ganhou espaço, e é uma liderança que surge e terá desafio de nos próximos quatro anos, em que não terá mandato, continuar com sua voz influente num um partido muito partido, o MDB.

Há muitas dúvidas sobre a composição do Congresso, porque há novas regras de coligação e de cláusula de barreira. Os próximos dias serão cheios de informação para entender o que o eleitor escolheu nas urnas.

Sobre Solda

Luiz Antonio Solda, Itararé (SP), 1952. Cartunista, poeta, publicitário reformado, fundador da Academia Paranaense de Letraset, nefelibata, taquifágico, soníloquo e taxidermista nas horas de folga. Há mais de 50 anos tenta viver em Curitiba. É autor do pleonasmo "Se não for divertido não tem graça". Contato: luizsolda@uol.com.br
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