O motorista replicou: “Estou à sua disposição. Aguardo aqui até às 18 horas”. Callado ainda perguntou se ele não iria almoçar, recebendo a resposta que tinha ganho diária e iria se virar. Seis da tarde, descem e pegam o carro, pedindo ao motorista que lhes deixe na UNB. O sujeito obedeceu cegamente. Terminado o Encontro Marcado, voltaram ao carro e pedem para ir ao Palácio do Buriti, onde o governador José Aparecido lhes esperava para um jantar.
Já era quase duas da manhã, jantar terminado, estavam batendo papo com o governador. Foi quando explodiu uma confusão com vários gritos e ameaças. Desceram todos aos jardins do Palácio. O cenário era de guerra. Um coronel da Aeronáutica, acompanhado por fornida tropa, ameaçava invadir o Palácio para prender o desertor que havia abandonado um brigadeiro no aeroporto pela manhã. A tropa, com os fuzis apontados, ameaçava a invasão. O oficial de plantão da PM do DF, cioso dos seus deveres de proteger o Buriti, também tinha postado a tropa, com os fuzis apontando para o pessoal da Aeronáutica. Uma fagulha e o Palácio ia pegar fogo, com vários mortos de lado a lado. José Aparecido tomou conta da situação, desarmou, literalmente, os soldados de ambas as tropas, e esclareceu o equívoco: o motorista, numa infeliz coincidência, havia confundido Antônio Callado com o brigadeiro, tudo pela cor do terno. Disse que iria telefonar para o ministro da Aeronáutica e aclarar tudo. O coronel da Aeronáutica se acalmou. E Aparecido esclareceu tudo com o ministro.
No final da história, o motorista, ainda chorando, abraçou José Aparecido e disse-lhe: “Governador, muito obrigado. O senhor salvou a minha vida”. O governador indagou: “Mas você não notou nada de estranho?”. O sujeito, que continuava chorando, respondeu: “Governador, eu sou sargento-motorista há vinte anos e sempre cumpri as ordens de qualquer oficial, ainda mais brigadeiro, sem indagar qualquer coisa!”. Recompondo-se, o motorista ainda teve tempo de dizer, apontando para o Fernando Gabeira: “Na verdade, eu percebi que havia algo de muito estranho. Nunca vi brigadeiro entrar no carro oficial com um v…. comunista!”.
Araken Távora, recém chegado ao Rio, engatou um tórrido romance com a grande cantora Maysa. Maysa tinha turnê marcada pelo Brasil e o Araken seguiu atrás. Nos teatros, enquanto Maysa cantava, Araken ficava nas coxias tomando uísque. Quando batia a sede, Maysa clamava pelo Araken que entrava no palco com um copo cheio do líquido que Maysa sorvia e depois continuava o show. Bela noite, num teatro do Nordeste, a cena se repetiu. Um conhecido do Araken, dos tempos de Londrina, reconheceu a figura e gritou: “Dai, Araken! Tudo bem?”. Com a escuridão da plateia, Araken não reconheceu quem era e respondeu: “Tudo bem! Quem é?” “É o Tonho, filho do Geraldinho da Farmácia!” Aí começaram um longo diálogo rememorando o passado. A plateia, que no início não estava entendendo nada, caiu na gargalhada. O show continuou com a Maysa, no meio das músicas, interrompendo as canções para rir. O Aramis sempre contava essa história.
Um belo dia, a Hermínia deixou de ser Amélia e tocou o Araken de casa. Aramis Millarch, na sua coluna de 7/1/1992, escreveu: “Entre 31 de dezembro e o início de 1º de janeiro, Araken morreu no Rio de Janeiro. Sozinho, em uma noite em que oficialmente todos tinham a obrigação de comemorar. Comemorar o que? Anjo da morte, que desce em dezembro, levando pessoas tão queridas, levou também Araken Távora!”