Cada vez mais vai se estabelecendo na imagem internacional de Jair Bolsonaro um sentimento de rejeição que pode ser uma complicação para amigos estrangeiros que não tiverem o cuidado de ficar longe dele. Até em Nova York ele já teve problemas para receber uma homenagem, sendo obrigado a seguir para Las Vegas, onde o evento teve que ser feito em um lugar fechado.
Bolsonaro pode ser um grave incômodo pelas ideias doidas e extremistas que representa e também por causa do que ele fala. Em viagem ao Chile, em março, sua conhecida admiração pelo sanguinário ditador Augusto Pinochet foi mais que uma pesada gafe. Mesmo a direita chilena quer se afastar do fantasma político de um criminoso que marcou a história chilena com uma crueldade que fez dele uma figura com pouquíssimos seguidores no país.
A visita de Bolsonaro criou problemas para seu anfitrião, o presidente chileno Sebastián Piñera, abrindo espaços para manifestações da oposição, que foi às ruas expressar repúdio à presença do presidente brasileiro. O presidente da Câmara dos Deputados, Iván Flores, e o do Senado, Jaime Quintana, ambos oposicionistas, recusaram participar de um almoço em homenagem a Bolsonaro no Palácio La Moneda, sede do governo chileno.
Com isso é possível imaginar a tensão do presidente da Argentina, Maurício Macri, que vai receber Bolsonaro nesta quinta-feira, prestes a enfrentar uma eleição difícil, que tem do outro lado uma forte chapa peronista com a ex-presidente Cristina Kirchner como candidata a vice de Alberto Fernández, que foi chefe de gabinete de Néstor Kirchner. Macri tenta a reeleição em um momento de profunda crise econômica na Argentina e precisa dos votos dos eleitores moderados. E logo agora vem a incômoda visita de Bolsonaro.
Bolsonaro já andou dando opinião sobre a eleição na Argentina, com pesadas críticas afirmando que a vitória da chapa de Cristina Kirchner levaria os argentinos à condição em que está hoje a Venezuela. É uma besteira sem tamanho o paralelo com a Venezuela, mas o mais grave é a inconveniente intromissão do presidente de um país estrangeiro em assuntos internos da Argentina. Isso acendeu os ânimos da oposição ao governo Macri. Estão previstas manifestações contra Bolsonaro em Buenos Aires, com a participação do lendário grupo Mães da Praça de Maio, composto de parentes de desaparecidos, que durante a ditadura militar ocupavam periodicamente uma praça da capital argentina em denúncia de abusos da ditadura militar.
Só falta Bolsonaro dar a mancada de fazer um elogio a algum dos ditadores que passaram pela Argentina, criminosos cruéis como Jorge Videla ou qualquer outro assassino do mesmo tipo. Provavelmente haverá alguma pergunta de um jornalista sobre este tema. E não é difícil que o inconveniente visitante cometa este deslize, já que é forte seu apreço por ditadores. Recentemente ele chegou a elogiar o ex-ditador do Paraguai, Alfredo Stroessner, que praticava até pedofilia. Mas mesmo que Bolsonaro se comporte de forma razoável, a Argentina prepara-se para uma quinta-feira bastante quente, em um dia que com certeza Maurício Macri gostaria de estar em outro país.