Mais uma campanha internacional contra um alimento maravilhoso -agora, o pão
Há anos, numa das visitas do escritor português José Saramago ao Brasil, um repórter quis saber sua opinião sobre a fast food —se a achava prejudicial ou não. Embora a fast food fosse então uma novidade como conceito, a pergunta era tão sem sentido quanto pedir ao chef francês Paul Bocuse que falasse de realismo fantástico. Mas Saramago, que talvez nunca tivesse ouvido a expressão, virou-se o melhor que pôde. Entendendo a fast food como algo que se come às pressas —e não que se prepara às pressas—, respondeu: “De que importa se comem depressa ou devagar? O importante é que comam!”. Pois.
Assim como Saramago, não sou muito atento às últimas tendências da gastronomia. Mas, do jeito que as notícias correm, não há como ignorar certos rumores. Ouço dizer, por exemplo, que, tendo Los Angeles como epicentro, há uma campanha internacional de boicote ao pão —uma “no-bread campaign”.
O inimigo, na verdade, não seria o humilde pão francês, mas o carboidrato, que, segundo os ativistas, transforma-se em glicose, fibras, placas de concreto armado e outros petardos dentro do organismo. E o pão, com seu miolo acolhedor e amigo, casca de dar água na boca e mil maneiras irresistíveis de ser preparado, é o reduto em que o carboidrato, solerte, se esconde.
Só nos resta perguntar quanto tempo levará para que esta campanha chegue até aqui, repetindo movimentos anteriores contra a carne vermelha, a gordura, os óleos, o sal, o açúcar, os derivados do leite e o glúten. Em algum momento, todos viraram inimigos públicos e milhões de pessoas foram convencidas a vê-los como mortais.
Um conhecido meu, sócio da rede talvez mais sofisticada de pizzarias do país, falou-me há tempos do único alimento de que jamais abrirá mão na vida. Pensei que fosse citar uma de suas fabulosas pizzas. Mas ele disse: “Pão com manteiga”. Assinei embaixo.