O inventor do Brasil

Rogério Distéfano – O Insulto Diário

Em verdade vos digo que Lula inventou o povo brasileiro. Ousaria dizer que inventou o Brasil. A gritaria  contra o STF porque dá ou porque não dá o habeas corpus é prova disso. A caravana acompanhada pelos fiéis e agredida pelos infiéis é prova disso. A contraparte, Jair Bolsonaro também é prova disso. Antes de Lula não tínhamos mobilizações permanentes a favor ou contra o governo ou opositores ao governo. Tivemos a Marcha das Mulheres pela Democracia em 1964, que alimentou o golpe militar, e tivemos as manifestações contra Fernando Collor.

Nas duas situações não era povo em ação. Era população agregada episódica e pontualmente. Entre eles muitos dos que hoje estão em lados diferentes, pró e anti Lula. O que diferencia povo e população? O traço da política. Os apoiadores de Lula querem a volta das políticas do ex-presidente – e falo dos que vêm nelas o substrato de resgate do pobre e do miserável; não falo dos e das oportunistas do palanque, buscando em Lula sua tábua de salvação. Os que divergem de Lula apoiam candidatos do outro extremo do espectro.

Falei candidatos? Perdão, é candidato, só um, Jair Bolsonaro. Os candidatos outros são o de sempre, das oligarquias dos acertos, das coalizões, da troca de cargos e comissões. Mudaram alguns nomes, outros permanecem – Alckmin, Ciro, Marina, Álvaro, nada de novo, tudo do mesmo. Lula e Bolsonaro, para o bem e para o mal, trazem o povo consigo. Os seguidores de um e outro saben i que querem, e o mais importante, o que não querem. E o que não querem são as políticas do adversário. Claro que isso existe em qualquer disputa política como a eleição que vem por aí.

No entanto, na disputa entre Lula e Bolsonaro existem duas visões claras e projetos definidos de Brasil. Podem não ser os melhores, mas são explícitos, um deles, assustador, pode levar o país ao caos, o outro, do lulopopulismo, pode levar à quebra no afã de retomar o modelo bolivariano do assistencialismo. Ao contrário dos outros candidatos, vagos e difusos, ue acenam com milagres nebulosos e conciliações impossíveis. A polarização Lula-Bolsonaro é novidade na História do Brasil, na medida em que traduz a decisão política de quem vota.

Sobre Solda

Luiz Antonio Solda, Itararé (SP), 1952. Cartunista, poeta, publicitário reformado, fundador da Academia Paranaense de Letraset, nefelibata, taquifágico, soníloquo e taxidermista nas horas de folga. Há mais de 50 anos tenta viver em Curitiba. É autor do pleonasmo "Se não for divertido não tem graça". Contato: luizsolda@uol.com.br
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