O mar não está pra peixe

“A maré vermelha não apareceu neste verão, depois que o Internacional de Porto Alegre foi campeão do mundo. Também não é corrente vinda do PT gaúcho pra botar água abaixo o cardume de piranhas do ex-ministro Zé Dirceu”, dizia a graciosa bióloga marinha, enquanto abria ostras que seriam servidas no aperitivo. “A maré vermelha que mandou para o hospital 130 pessoas aqui em Bombinhas”, explicava a bióloga catarina com curvas de iemanjá, “carrega algas nocivas que liberam substância que atinge o sistema digestivo do ser humano, causando complicações que podem durar até uma semana. Em todo os mares poluídos, as algas surgem naturalmente e, assim que a mancha marítima deixa a região, ostras e mariscos se purificam; estão impregnados, mas não contaminados. Os moluscos adquirem alimentos e nutrientes através da água. Quando começam a sugar o líquido sem toxinas, já podem ir pra panela.”

“Essa maré vermelha então pode chegar ao litoral do Paraná?”, perguntei à bióloga, em nome das deliciosas ostras que agora estão cultivadas na Baía de Guaratuba. “Com certeza! Mas não há como prever. O problema só é detectado quando as pessoas estão sendo levadas para o hospital.” No caso do litoral do Paraná, só é possível prever a maré marrom: num futuro próximo, alguém vai puxar a descarga e a Ilha do Mel vai se dissolver no Atlântico Sul.

Para não morrer pela boca, nada melhor do que lidar com especialistas. Inclusive, acerca dos hábitos e costumes dos animais marinhos. Poucos sabem, nos revelou a bióloga, depois da terceira caipirinha com cachaça de Luiz Alves, quando a conversa ficou mais animada, mas o primeiro contato do golfinho com o homem ocorreu em Itajaí: “Estava o açoriano tarrafeando ao largo do porto e eis que emergiu junto à canoa o raro golfinho azul. O pescador nunca tinha visto golfinho; o golfinho nunca tinha visto nativo de Itajaí. Um ficou olhando pro outro, sem saber o que dizer. De repente, o pescador embevecido soltou a famosa interjeição típica dos nascidos na terra dos nossos ex-governadores Otávio Cesário e Mário Pereira, que pode expressar alegria, aplauso, decepção, irritaçãoe vale por mil palavras.
Ê-ê-ê-ê-ê-ê-ê-ê!!!

Para quem ainda não ouviu, a interjeição de Itajaí tem som agudo vindo direto da garganta, com o acento circunflexo bem caprichado.

Depois desse primeiro encontro entre golfinho azul e o ser humano, até hoje a família dos botos se manifesta com a mesma expressão dos catarinas de Itajaí.

“Isso demonstra, ensina a bióloga marinha depois de arrematar mais uma caipirinha, que a natureza é sábia. Se aquele golfinho azul tivesse conhecido antes o pescador de Florianópolis, a expressão dos botos seria a mesma dos manezinhos da ilha:
– Lhó, lhó, lhó, lhó!!!”

Com algumas caipiras, qualquer teoria científica vira papo de boteco: “Vocês sabem por que o melhor camarão do Brasil vem de Santa Catarina?”, pergunta a nossa estupenda bióloga marinha. “Muito simples: o nosso camarão tem a casca grossa da região serrana de Lages, o rabo bonito da Vera Fischer, os chifres vem de Florianópolis, são frescos porque nascem em Laguna e tem merda na cabeça porque é o que mais tem no mar.” Dante Mendonça [12/02/2007] Tribuna do Paraná

Sobre Solda

Luiz Antonio Solda, Itararé (SP), 1952. Cartunista, poeta, publicitário reformado, fundador da Academia Paranaense de Letraset, nefelibata, taquifágico, soníloquo e taxidermista nas horas de folga. Há mais de 50 anos tenta viver em Curitiba. É autor do pleonasmo "Se não for divertido não tem graça". Contato: luizsolda@uol.com.br
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