O Mercosul melhora sem a Venezuela

A vitória de Mauricio Macri na Argentina ajudará o Brasil a sair da encrenca da diplomacia Fla-Flu inaugurada por Lula e parcialmente congelada pela doutora Dilma. Quem quiser pode achar que no domingo houve apenas uma vitória da direita, mas o que sucedeu foi o velho e bom exercício da alternância no poder. Depois de 12 anos de governo do casal Kirchner, com o país em crise, empesteado por roubalheiras, venceu a oposição. Se essa hipótese não existisse, seria o caso de se admitir que uma aliança que se diz de esquerda jamais pode ser desalojada do palácio. É o raciocínio bolivariano, vigente na Venezuela.

Macri, ex-presidente do Boca Juniors, entrou em campo com uma agenda diplomática agressiva. Quer acelerar as negociações de um acordo comercial do Mercosul com a União Europeia (o que é bom para o Brasil) e negociar a aproximação com o Tratado Transpacífico, formado por 12 países, entre os quais Estados Unidos, Japão e Austrália, Chile, Colômbia, México e Peru (o que pode ser inevitável para o Brasil). Esquentando a agenda, quer afastar a Venezuela do Mercosul, sustentando que o governo de Nicolás Maduro viola a cláusula democrática do bloco.

A solidariedade que o comissariado dá ao bolivarianismo é uma pedra no sapato da diplomacia brasileira. Em 2012, quando o presidente do Paraguai foi deposto pelo Congresso, a doutora Dilma meteu-se numa estudantada, excluindo o novo governo do Mercosul. Deu em nada e, discretamente, ele foi readmitido. O precedente ampara a exclusão da Venezuela. Sem Nicolás Maduro e sua Polícia Nacional Bolivariana, o Mercosul melhora.

Esse caminho agrada ao governo dos Estados Unidos, que cozinha o bolivarianismo na crise econômica em que está a Venezuela. Lá faltam fraldas e sabão em pó nos supermercados e abundam oposicionistas da cadeia.

É comum que a Argentina e os Estados Unidos dancem o mesmo tango. Em 1976, quando o almirante-chanceler argentino disse ao secretário de Estado Henry Kissinger que o terrorismo era o maior problema do país, ele aconselhou: “Se há coisas a serem feitas, façam-nas rapidamente, mas voltem depressa à normalidade”. Morreram cerca de 30 mil pessoas. Restabelecida a democracia, o chanceler Guido di Tella anunciou que seu país deveria ter “relações carnais” com os Estados Unidos. Teve-as, dolarizou a economia e anos depois o Fundo Monetário Internacional cortou o oxigênio do governo de Fernando de la Rúa, levando-o a fugir do palácio.

Macri entrou em campo com o pique de um centroavante, à la Lula. À primeira vista, será um campeão, mas diplomacia e futebol são coisas diferentes, e sua chegada chega a ser um presente para o Brasil.

Como? Seguindo o exemplo e o ensinamento do Barão do Rio Branco. Em 1895, ele era apenas um cônsul em Liverpool e negociou uma questão de limites com a Argentina, arbitrada pelo presidente americano Grover Cleveland.

Ganhou, dando a Pindorama metade do que hoje é o estado de Santa Catarina, mais um pedaço do Paraná. Triunfo total, mas, em vez de ir para o Rio, onde seria festejado como um campeão, voltou para Liverpool e explicou: “Nada mais ridículo e inconveniente do que andar um diplomata a apregoar vitórias”.

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Elio Gaspari – Folha de São Paulo

Sobre Solda

Luiz Antonio Solda, Itararé (SP), 1952. Cartunista, poeta, publicitário reformado, fundador da Academia Paranaense de Letraset, nefelibata, taquifágico, soníloquo e taxidermista nas horas de folga. Há mais de 50 anos tenta viver em Curitiba. É autor do pleonasmo "Se não for divertido não tem graça". Contato: luizsolda@uol.com.br
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