A nova excitação é nenhuma excitação. É squirting de melatonina
Há 20 anos era impossível passar por uma banca de jornal sem ler a palavra clitóris em 9 a cada 10 capas de revistas. Talvez apenas edições automobilísticas não oferecessem o mapa do ouro para o orgasmo feminino e talvez por isso fossem esses os exemplares capitalistas mais tristes do universo.
Acho engraçado pensar nisso. Minha vida sexual começou há duas décadas e, pelo menos dentro do meu círculo de amizades da época, já ríamos desbragadamente dos parceiros que não curtissem fazer oral ou não soubessem dedilhar a nota mais aguda de uma vagina.
Esses moços desavisados, amantes do ensimesmadíssimo sexo bate-estaca, adoradores do movimento das próprias ancas em espelhos, existiam aos montes no começo do século 21, mas tivemos a honra de presenciar a abertura, o prelúdio, a inauguração de seu franco declínio. Hoje em dia, sinceramente, não conheço nenhum. Não sei se me tornei mais seletiva ou se devo dizer: muito obrigada, Capricho, Claudia, Querida, entre outras.
Acontece que a vida nunca foi fácil para os homens. E estou sendo bastante cínica. Demoraram séculos para aprender onde fica um troço escancaradamente óbvio (a não ser que depois dos 40 você tenha feito alguma cirurgia ridiculamente patriarcal, quiçá pedófila) e agora, sinto muito, vão ter que ir além. E não estou falando da internacional dedada no avizinhado ou de esfregações aladinescas em biquetas mamárias. Eu estou falando de deixar a sua mulher dormir. DOR-MIR.
Capotar, descansar, babar, desmaiar, entrar em coma induzido por esgotamento. Tomar um Miosan e desaparecer no ar. Tomar um Flanax e esquecer por dez horas das hérnias na lombar. Inexistir. O orgasmo de 2022 é não constar da lista do IBGE.
Estamos tão exaustas que membros entumecidos e línguas atrevidas já não emocionam. A trepada do século mudou seu nome para: CUIDA DA CRIANÇA e me deixa DESCANSAR. E quanto tempo será que vai demorar para os companheiros progressistas descobrirem, de novo, algo tão escancarado e óbvio?
Leite se vende em supermercado. Ou seja: você, meu amigo, tem leite. Agora deixa essa deusa dormir. E não faz barulho de propósito ao usar o banheiro. Nem ao usar o micro-ondas. Não bata portas que dizem: “Acorda, sou homem e não sei o que fazer”.
E isso vale para namorados que não são o pai da criança. Quer namorar uma gatinha com filho, LEMBRE QUE ELA ESTÁ EXAUSTA e sozinha e cagada e triste, então sugira filmes com princesas em vez de festas com DJ. O novo clitóris é tratar bem os filhos dessa mulher. O novo clitóris gosta de se esconder em travesseiros. E quem tem que enfiar a cara ali e babar até encontrar algum prazer é a própria dona do travesseiro.
Se o mercado do pornô estivesse realmente atualizado, já teriam lançado um filme de putaria com 20 mulheres lindas e nuas… dormindo. Deitadas em seios, em vaginas, em bundas. Uma suruba de roncos. Fulana abre a porta. É um encanador. Ele veio consertar um vazamento? Não, ele veio brincar com seu filho pra você dormir. A nova excitação é nenhuma excitação. É sonos múltiplos. É “squirting” de melatonina.
Se o mercado de brinquedinhos sexuais soubesse o que estamos passando, não fariam pênis com 78 rotações. Eu lá tenho agenda pra pinto de borracha que parece a garota d’O Exorcista? Todas as últimas vezes que tentei me masturbar, dormi antes de ajeitar meu braço em almofadas estratégicas para a siririca não atacar a cervicalgia. Quando sex shops forem de fato feministas, vão vender um unicórnio de dois metros de altura que faça purê de batata, lave uniforme com mancha de shoyo e conte histórias.
Antes a reclamação é que os homens gozavam, viravam para o lado e dormiam. Agora eles gozam, fazem neném, o neném nasce, e eles viram para o lado e dormem. Até o neném ter 18 anos. E a gente continua se perguntando: “E eu? E o meu prazer?”.