Autor do projeto que legaliza os jogos de azar no país, o novo chefe da Casa Civil é dono da sexta maior fortuna do Senado
Com a nomeação do senador Ciro Nogueira (PP-PI) para a chefia da Casa Civil, que é o ministério dos Ministérios, o site Games Magazine Brasil fez a festa. Informou a seus leitores que Nogueira é “um estudioso especialista na matéria de jogos de azar e suas vantagens para o Brasil em matéria econômica”. Mais do que isso, o senador piauiense e presidente nacional do PP é autor do projeto de lei que “regulamenta ao mesmo tempo o jogo do bicho, os bingos, os jogos eletrônicos, videoloterias, videobingos, cassinos em resorts, jogos de apostas esportivas online e jogos de bingo online”.
Para ser mais objetivo, Ciro Nogueira está dedicado de corpo e alma desde 2014 ao lobby da liberação do jogo no país. Nos seus cálculos, a liberação vai gerar cerca de 600 mil empregos diretos e permitirá a arrecadação de R$ 20 bilhões ao ano por conta de impostos aplicados ao mundo das apostas. Nas entrevistas sobre o tema, Ciro garante que “a volta do jogo já é quase uma realidade, é um caminho sem volta”. Ele explica que pesquisas encomendadas pelos interessados revelam que a maioria da população é favorável à regulamentação do jogo.
Para municiar o trabalho de lobista, o senador já visitou vários países nos quais o jogo é livre. Fala com intimidade dos cassinos de Las Vegas e Atlantic City e também dos que operam na Ásia, com destaque para as casas superluxuosas de Cingapura. Certamente, Ciro Nogueira não pagou do próprio bolso essas viagens. Deve ter patrocinadores para suas excursões. E é sabido que os principais financiadores da campanha de liberação do jogo no Brasil são os poderosos banqueiros do jogo do bicho. São eles que pagam as faturas do lobby no Congresso.
Na chefia da Casa Civil, coração do Poder Executivo, Ciro poderá exercer influência para acelerar a tramitação dos projetos que liberam o jogo (há projetos no Senado e na Câmara). Recentemente, o senador foi escolhido como relator da Medida Provisória 1034/21, que regulamenta as apostas esportivas e bingos online e determina o recolhimento dos impostos sobre a receita líquida da arrecadação, descontados o imposto de renda e os prêmios (GGR). Essa mudança de sistema atende à pressão dos empresários de jogos online, pois reduz a carga tributária sobre o setor.
Pode ser pura coincidência, mas a fortuna do senador Ciro Nogueira não parou de crescer nos últimos anos. Ele é o sexto senador mais rico do Congresso, com patrimônio declarado ao TSE de R$ 23 milhões nas eleições de 2018. Alvo de investigações da Receita Federal e acusado pela PF de receber propinas da JBS e das empreiteiras OAS, Engefix e Odebrecht, Ciro viu seu patrimônio pular de R$ 2 milhões para R$ 23 milhões (cerca de 1.000%), em apenas oito anos.
Em 2010, quando ele se candidatou ao Senado, declarou bens no valor de R$ 1,9 bilhão, dos quais R$ 210 mil em dinheiro vivo. A empresa Ciro Nogueira Comércio de Motocicletas representava R$ 809 mil de seus bens. Em seu registro de candidatura para a reeleição ao Senado em 2018, declarou possuir bens que somam R$ 23,3 milhões, a maior parte em participações societárias não detalhadas. Constaram da declaração um jatinho no valor de R$ 2,8 milhões e R$ 180 mil guardados em espécie.
Com base na frenética evolução patrimonial, pode-se afirmar que o novo ministro-chefe da Casa Civil do governo Bolsonaro é um homem de muita sorte. As apostas do senador Ciro Nogueira valem ouro.