Enquanto os cardeais da República afundam o país na mais grave crise de sua história, aqui na paróquia os acontecimentos se sucedem “normalmente”. Nada, por exemplo, que preocupe mais o governador do que manter a rotina anual de participar, como piloto de possante bólido, das 500 Milhas de Londrina, como ocorreu no último sábado.
Ok! Não era mesmo dia de expediente e se não usou dinheiro público para financiar seu hobby, problema algum… a não ser pela inevitável lembrança de que, em anos anteriores, ele dividia o volante com o amigo Márcio Albuquerque Lima, ex-chefe da Receita Estadual e um dos 62 enrolados na Operação Publicano, que investiga fraudes aos cofres públicos estimadas em mais de R$ 500 milhões.
O clima de “normalidade” se manteve no mesmo sábado, porém em Curitiba. Foram fatos políticos que, embora paroquiais, tiveram o condão de desenhar com mais clareza o futuro próximo:
- O PT municipal confirmou o prenunciado afastamento da aliança com o prefeito Gustavo Fruet, do PDT. E confirmou, também, a tendência de lançar o deputado Tadeu Veneri como candidato próprio à prefeitura no ano que vem.
- No mesmo dia e hora, o PDT se reunia para reconduzir o ex-senador Osmar Dias à presidência estadual da legenda. E para lançar Fruet à reeleição.
- Óbvio, Fruet não só “aceitou” o desafio como, em combinada retribuição, lançou Osmar como candidato ao governo estadual em 2018.
- Pela primeira vez na história política de Osmar Dias – sempre acostumado a criar suspense e só tomar decisões dramáticas nos minutos finais – imediatamente respondeu que sim, ele topa ser candidato a suceder Beto Richa em 2018. Prometeu arregaçar mangas para organizar o partido em todo o estado e pensar num plano de governo.
Desta vez parece não haver – ou não ter sido levado em consideração – o fraternal acordo com o senador Alvaro Dias, segundo o qual um irmão nunca disputaria um mesmo cargo contra o outro. Pode-se inferir, então, que Alvaro, de fato, abdicou da sempre acalentada disposição de voltar ao Palácio Iguaçu?
É possível. Como se sabe, o senador está arrumando as malas para fazer a baldeação do PSDB para o Partido Verde – troca que só se justificaria para o PV se este o visse como candidato à Presidência. É a chance da legenda de ter um “puxador” de votos que lhe garanta eleger bancadas mais expressivas no Congresso e nas Assembleias Legislativas.
E assim segue a vida no Paraná, independente da fúria cívica que acomete o país desde que, a partir de Curitiba, a Operação Lava Jato pôs o país de ponta-cabeça.
Celso Nascimento – Gazeta do Povo (o jornal encolheu, mas Celso Nascimento continua o grande jornalista de sempre)