Millôr tinha um jeito peculiar diante dos elogios. Jamais o agradecimento convencional. Fazia uma breve referência ao que fosse elogiado. Diferente para os íntimos: uma interpretação a mais, a origem ou o propósito. Todos com o adorno de risos rápidos.
Não eram respostas de diletante. Coisa de profissional, de quem sabia a medida do que fez. “Escrevo e desenho porque sou profissional e como profissional”, frase, talvez, não totalmente verdadeira, mas sincera como expressão do Millôr visto por Millôr.
Daí veio a curiosidade a que ele não me deu resposta convincente, nunca: por que você continua sem lançar seu trabalho no exterior? Quando é que você vai enfim contratar um agente internacional? As respostas evasivas pretextavam depressa outro assunto.
Millôr foi um talento universal. Seu desenho e seu humor se fizeram com a linguagem do mundo. O mundo o esperou em vão, no entanto. A universalidade de Millôr, paradoxalmente, ficou apenas no âmbito doméstico.
A administração da sua obra por este empolgante Instituto Moreira Salles promete nova oportunidade para o mundo e suas melhores publicações, editoras e galerias. Apesar de tudo, o mundo a merece.
Janio de Freitas é jornalista