O presente de Cid

As reclamações do tenente-coronel Mauro Cid contra a Polícia Federal e o ministro do Supremo Tribunal Federal, Alexandre de Moraes, divulgadas pela revista Veja, podem não dar em nada em termos jurídicos, mas já rendem à oposição bolsonarista um atraente discurso político.

A poucos meses da campanha para as eleições municipais, num momento de baixa na popularidade do presidente Lula e de demonstração de força de Jair Bolsonaro após o evento de fevereiro em São Paulo, os bolsonaristas poderão dizer que Bolsonaro é uma vítima perseguida por Moraes e até defender a anistia para quem tentou dar um golpe de Estado.

O discurso pela anistia dos presos e condenados pela barbárie de 8 janeiro, em Brasília, já corre fácil pelo Congresso e pelas redes sociais. Em geral, o sistema é o mesmo: fala de um dos presos como uma pessoa comum, uma mãe ou pai, e diz que esta pessoa deixou uma família sozinha, etc.

Para incluir Bolsonaro e até Mauro Cid como vítimas de Moraes é um pulo relativamente simples, a ser dado num futuro próximo. A base será questionar se Cid disse tudo o que disse porque é verdade ou porque foi coagido pela Polícia Federal – o mesmo argumento, aliás, usado por empreiteiras punidas por corrupção pela operação Lava Jato e recentemente reabilitadas por decisões do ministro Dias Toffoli, do Supremo.

Se o discurso já deu certo na Lava Jato, aos bolsonaristas não custa tentar.

Sobre Solda

Luiz Antonio Solda, Itararé (SP), 1952. Cartunista, poeta, publicitário reformado, fundador da Academia Paranaense de Letraset, nefelibata, taquifágico, soníloquo e taxidermista nas horas de folga. Há mais de 50 anos tenta viver em Curitiba. É autor do pleonasmo "Se não for divertido não tem graça". Contato: luizsolda@uol.com.br
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