Nem a nascente república, regime igualitário por natureza, fez isso. Os nobres conseguiram lei para incluir seus títulos aos nomes; comendadores e conselheiros do Império assim permaneceram. Rio Branco, ministro mais importante da primeira república, assinava como ‘barão’ os documentos oficiais. Os ministros civis receberam títulos de general, incluído Rui Barbosa, mais baixo que a espada oficial. Nesta república zé mané com faculdade à distância é doutor. Nem doutor é suficiente: um juiz indeferiu a petição que dirigi ao ‘senhor juiz’. Tinha que ser ‘excelentíssimo senhor doutor juiz de direito da comarca do caixa prego’.
Bom seria acabar com doutor e os escambaus correspondentes. Os positivistas tentaram, no começo. Os ofícios começaram por ‘senhor’ e terminavam por ‘saúde e fraternidade’. Logo voltaram ao rebarbativo e seboso que subsiste: “sendo o que para o momento se nos apresentava, colhemos o ensejo para externar a vossa senhoria nossos protestos de elevada estima e distinta consideração”. Algo Macondo, Garcia Márquez. A Revolução Francesa tentou transformar todos em ‘cidadão’, a Russa, em ‘camarada’ e a Cubana no generoso ‘companheiro’, aquele com quem dividimos o pão – mesmo em falta no mercado bolivariano.
No Brasil não pega. Brasileiro vive pela prebenda e pelo título. No Legislativo o decoro impõe o ‘vossa excelência’, mesmo para dizer ‘vossa excelência é canalha, ladrão, corno, filho de uma égua’. Gleisi Hoffmann e Joice Hasselmann, nossas damas no Parlamento, xingam-se mas não dispensam o ‘vossa excelência’ – o que vem antes é proibido para menores de 70 anos. E os generais, aquela tropa de paisanos, deixarão de ser generais no Planalto? Bom mesmo seria proibir terno e gravata e substituir por traje de safari – ou Jim das Selvas – como no tempo de Jânio Quadros. Pelo menos haveria economia de ar condicionado.